Tuesday, March 08, 2016

busca


o cortejo esta à espera
notas fúnebres em dia de sol

alma que não desperta
cancela o banquete
faz da dança um movimento cerrado
vira presença enfadonha

censura, de dentro pra fora
resseca os potes de tinta
enferruja as cordas
brota pó

fantasia de querer ser
fraca ambição
pobre desejo
enfeita discursos
reproduz o consumado

aquele que não busca agradar
nem a si nem além
constrói liberdade
brilho redentor
impulso
vital


https://www.youtube.com/watch?v=mmCnQDUSO4I

Tuesday, March 31, 2015

trovoa

relâmpago, relampagueia
mente fervorosa
pensamentos cruzados
conclusões superficiais
questionamentos profundos em maré rasa
é chegada a hora de ser eremita
adentrar as conchas dos corais
mergulhar com vontade
sem boiar
sem se assustar com as ondas que quebram com força nas margens
não importa a temperatura da água
não importa a profundidade do oceano
adentrar atrás das respostas
sem faltar ar
sem anseios
sabendo a hora de voltar

efeito

você vindo ao meu encontro
sorrio desperto como ingênuo amor
minha cabeça sobre seu peito,
diz calma e aconchego

lábios, pescoço, cheiro, pele
respiro e inspiro
nasce calor e toque

abraço o tempo
brinco com a distância
me confundo
danço com o improvável

crio prosas pra quem nunca vi

efeito surpresa
preparação
imaginação

Wednesday, February 04, 2015

vaga autonomia

me perguntam como sobrevivo
andando pelas ruas sozinha
entrando em vilas abandonadas
atravessando fronteiras

me perguntam se não tenho medo
me perguntam se eu não preferiria ter alguém por perto

cada um com seu limite
cada um com seus anseios

viajo como se tivesse nascido para isso
andar de lá pra cá
para dormir cansada e ter uma boa noite de sonhos

viajo com pés que não encontraram um refúgio
viajo com perguntas na ponta da língua
viajo com os olhos bem abertos

cada prédio, cada tijolo
cada montanha
cada árvore, contam histórias
e absorvo todos os parágrafos
preenchendo minhas lacunas

ouvir as súplicas de desconhecidos
trocar palavras de gentileza
sentir o frio do fim do dia
sentir o calor dos encontros

acho que sobrevivo sentindo

Tuesday, December 16, 2014

minha inocência para te amar

o som do violão sete cordas
do chocalho e do violino
o ritmo do sertão
me guiam para perto de você

busco nesses sons
reviver lembranças
e sentir os olhares
outrora intensos e grandes
de querer-te conhecer

ando a espera de encontrar
em matas distantes, em ilhas perenes
folhas para extrair o perfume de seu cheiro
para guarda-lo em um pingente
próximo ao meu coração

nado num mar sob uma muralha de plantas
peço a Iemanjá que feche meus olhos
para que nademos juntos outra vez
ao sol do nascer de um novo dia

Monday, November 24, 2014

Elegia 1938 (Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

Thursday, November 20, 2014

em campo

volto as origens
a escrita incentivada pela tristeza
pelo pavor e pelo medo
volto pq sinto que toda vez que venho pra cá
é como se eu deixasse parte da minha angústia
nessas palavras que quase não domino mais

a vida é uma eterna batalha
e me sinto um guerreiro sem tropa
sem paramédicos
sem arqueiros para cobrir minha corrida

me sinto um soldado que
não está correndo por uma nação,
mas por apenas uma vida
minha própria sobrevivência

é uma guerra moderna
é a nova era das lutas
a luta interna
a luta mental
a luta árdua
e diária

Wednesday, August 06, 2014

Mariano

meu amor de Montevideo tinha os olhos azuis da cor do Rio del Plata em dias de sol,
e como o rio me passava paz e uma tranquilidade típica do povo uruguaio.
Quando escutava músicas das quais gostava não conseguia ficar em silêncio, assobiava, cantava e batucava, quebrava a monotonia do hostel.
E eu cantarolava baixinho junto com ele.

Quando o vi pela primeira vez meu coração já sinalizava que tínhamos algo em comum.
Nossas primeiras palavras foram sobre rock, sobre política e depois trocávamos peculiaridades sobre nossos países.
Ambos de esquerda, ambos otimistas, ambos sensíveis ao tambor negro.

Compartilhávamos do gosto pelo vinho e minha vontade era de prolongar por horas o Tannat que tomávamos juntos, a maneira como ele me olhava nos olhos enquanto contava suas histórias era hipnotizante.
Seu cabelo era castanho, com algumas ondulações que formavam pequenos cachos que caiam sobre sua nuca, queria morder aquela nuca, queria sentir seu cheiro.
Por um momento quis ser uruguaia, dividir a cuia e o mate com ele, conhecer seus pais e ouvir as histórias de sua mãe sobre sua prisão na época da ditadura.

Nos sentíamos atraídos um pelo outro, mas o que fazer?
Ele estava em seu local de trabalho e eu de malas prontas para voltar ao Brasil.
Com os braços bem abertos ele me enlaçou contra seu corpo,
pude sentir seu antebraço apertar minhas costelas,
pude sentir sua barba ir de encontro ao meu ombro,
com seguidos e apertados abraços nos despedimos.
Quando nos soltamos só conseguia olhar para seus olhos,
me afundar nesse rio de mistério,
queria guardar bem em minha memória aquele rosto que me cultivou.
Não sei se o verei novamente, mas sei que essa nova paixão de instantes pode esquentar meu peito nessas férias de inverno.

Tuesday, July 15, 2014

querendo entender


digo que fiz tudo que pude,
digo que corri pra encontrar minha paz refletida no outro.

não encontrei paz nenhuma no outro
essa paz só depende de mim

quis que teu abraço suprisse a falta de calor do meu corpo
mas ele abriu feridas que eu havia esquecido

um novo amor eu pedi
um novo amor era o que eu queria
não sei por que engrandeço tanto essa palavra

conhecer alguém novo é mais simples do que eu pensava
e todos somos feitos de carne e osso
com nossos atrativos e defeitos

tenho muito o que aprender
tenho muito o o que descobrir

descansa esse coração, digo para mim mesma
preciso me preparar para uma nova viagem...

Wednesday, July 09, 2014

amor ilusório

é difícil aprender,
controlar as emoções,
os pêlos eriçados,
os sorrisos bobos,
as borboletas na barriga,
a falta de fome,
de concentração,
as vontades inesperadas de abraçar, beijar e morder.

cada palavra que ele pronuncia produz um efeito gigantesco no meu eu,
de imensa alegria e vastidão, a imensas dores e derrotas

deixo-me levar,
deixo-me flutuar nos resquicios do seu amor

tenho fé,
tenho esperança,
não me deixo abater,
não me deixo amargurar

de amor em amor,
conto com o peito estufado
quão vasta é minha sabedoria nesse assunto perplexo

mas meu coração pede calma,
pede repouso e colo
tento escuta-lo,
mas são tantas as ilusões....

Tuesday, June 24, 2014

Miragem

atravessando as ruas amarelas
com os pensamentos distantes
eu nunca imaginaria que te encontraria naquela noite
estava no fim do meu último cigarro
a esperança e meu batom já tinham perdido a cor
os pés gelados

quando pedi minha taça de vinho
e vi você do outro lado do bar
acho que a pupila deve ter dilatado
o coração acelerado
sem explicação

50 caras dentro de um bar
e algo dentro de mim me atraía apenas para um deles
queria ter fotografado sua luz
queria desvendar todo mistério

na metade da taça,
eu desenvolvia estratégias para chamar sua atenção
a vergonha era minha inimiga
permaneci na cadeira admirando
o que me parecia intocável
distante

achava que era sonho
achava que era poesia

voltei para casa e
guardei você no meu imaginário