Wednesday, August 06, 2014

Mariano

meu amor de Montevideo tinha os olhos azuis da cor do Rio del Plata em dias de sol,
e como o rio me passava paz e uma tranquilidade típica do povo uruguaio.
Quando escutava músicas das quais gostava não conseguia ficar em silêncio, assobiava, cantava e batucava, quebrava a monotonia do hostel.
E eu cantarolava baixinho junto com ele.

Quando o vi pela primeira vez meu coração já sinalizava que tínhamos algo em comum.
Nossas primeiras palavras foram sobre rock, sobre política e depois trocávamos peculiaridades sobre nossos países.
Ambos de esquerda, ambos otimistas, ambos sensíveis ao tambor negro.

Compartilhávamos do gosto pelo vinho e minha vontade era de prolongar por horas o Tannat que tomávamos juntos, a maneira como ele me olhava nos olhos enquanto contava suas histórias era hipnotizante.
Seu cabelo era castanho, com algumas ondulações que formavam pequenos cachos que caiam sobre sua nuca, queria morder aquela nuca, queria sentir seu cheiro.
Por um momento quis ser uruguaia, dividir a cuia e o mate com ele, conhecer seus pais e ouvir as histórias de sua mãe sobre sua prisão na época da ditadura.

Nos sentíamos atraídos um pelo outro, mas o que fazer?
Ele estava em seu local de trabalho e eu de malas prontas para voltar ao Brasil.
Com os braços bem abertos ele me enlaçou contra seu corpo,
pude sentir seu antebraço apertar minhas costelas,
pude sentir sua barba ir de encontro ao meu ombro,
com seguidos e apertados abraços nos despedimos.
Quando nos soltamos só conseguia olhar para seus olhos,
me afundar nesse rio de mistério,
queria guardar bem em minha memória aquele rosto que me cultivou.
Não sei se o verei novamente, mas sei que essa nova paixão de instantes pode esquentar meu peito nessas férias de inverno.

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