Tuesday, December 04, 2007

a la alfredo

Te passo aquela dor de barriga, a insegurança dos mortais,
o assombro dos filmes de terror, da guerra, do lixo..
Logo não nos acostumamos a viver assim.
Vou me embora para Pasárgada, ou um planeta qualquer,
aquele onde farei as manobras aeronáuticas
mais rápidas como Fernão, voarei na velocidade do pensamento
e escutarei o silêncio ao meu redor como algo novo e vil.
Quando perguntarem de mim, podem responder sem medo:
"Está num mundo só seu, onde ninguém colocou os pés.. O céu lá é verde, existe corações derretidos e quadros surrealistas. Nossa imagem dentro de molduras é defasada e difusa como de quem morre e é esquecido, mas não será atrevimento algum que o farão entrar, amigos!"

Grotesco! - pensei.
Um viva ao fim! - gritei.

Monday, December 03, 2007

retratos do indefinido

Eu acordei com pressa, acordei pronta como quem já acorda vestido.
corri sem pensar, sem olhar para trás e dizer um adeus..
fui podre e carniceiro nas escolhas, quem não é um dia?
te olhava com pena sem entender, viajei mil léguas e não encontrei o que procurava,
mas quando percebi, achei minha réplica.
Deitados na grama não entendiamos o que estava acontecendo naquele momento,
me vi curiosa a cerca de ti, querendo esquentar seu olhar frio e tirar toda tristeza..
Logo o espelho estava em minha frente, eu e minha réplica, ambos com olhares vazios,
ambos calados e misteriosos, escondendo verdades e sentimentos..
Rindo e sorrindo como loucos, como confortados em meio a algo parecido com a paixão.
Dissemos lindas palavras, e me pergunto até que ponto foi sincero?
Quem sabe a mentira te conforta por segundos, mas quem sabe eu seja uma vã sabichona
e tudo que eu escrevo não tenha nexo com o que se passa com minha réplica.
Em todo caso eu gosto do carinho que ela me passa, dos beijos, dos pedidos..
Eu queria mais, só que para tê-la são tantas as armadilhas que teria de enfrentar,
eu queria me acalmar, dormir por meses, conseguir ler como antes.
Como conseguem? Como conseguem viver sem melodramas!

Friday, November 02, 2007

IDIOFATURA

Não me digo comunista, meu caro
Mas cheiramos a petróleo sanguinolento,
Tento te tirar de seu cubo e isso é raro
A fumaça saí e o ritmo não é lento.

Olhe com simplicidade,
Perceba como anda a mocidade,
Como decai nossa cidade,
Do que importa a pouca idade?

Teu movimento fugiu da ideologia
Nossos jovens repetem a cena de “Tempos Modernos”
Nada parece ainda ter magia
E ele só se preocupa em adquirir novos ternos.

Que individualismo é esse amor?
O tempo passa e a gente cresce
Não carece de tanto rancor..

Saturday, October 13, 2007

Não Sei Ao Certo!

O que você sabe? E o que eu sei?
Em matéria de amor?
Em matéria de vida?
Tento me exprimir por que?
Digo, te escrevo com tanto carinho, torcendo para que entendas,
mas que motivo leva a preocupação?
Eu quero que me ousa, mas tantos homens antes de mim
fizeram seus truques de mágicas, mobilizaram pessoas
e nenhuma delas os escutou.. Assim eu volto,
por que me preocupo com que me ousa?
Melhor cair na vida, ir ao mercado como um dia qualquer,
comprar farinha, ervas para o chá e algumas bolachas...
Agora, comprar para que? Um furto aqui outro ali,
"Que diferença faz?!" - a jovem pergunta - "vamos todos morrer"
Os problemas são dádivas um Messias disse, mas eu respondo
que sou humilde e quero vida simples.
O vento sopra não como um assobio, nem sinfonia,
é como um lamurio seco nessa cidade suja.
A gente aprende quando nos lembramos de algo que já sabíamos.
Creio que ninguem aprendeu a preservar o ambiente, só ouviram falar.
Conhecimento é o que aplicamos.
Você aplica o que? Quais suas metas? E o que você quer?
Minha mão suja reflete toda dor que tenho.
Quanto sujo você é? E quando se acostumou?
A vida se baseia em perguntas, já tentou faze-las a sí própio?
A gente se surpreende com nossas respostas!
Mas e quando elas não vem? (ela ecoa em minha mente)
E quando a resposta não vem? (...)
Para aonde você vai? O que quer encontrar?
E quem você quer conhecer?
É o último trago, e para aonde eu vou?
Minha fé é a imaginação, fecho os olhos e imagino coisas boas
as procuro como um mendigo atrás de sua comida,
tento vê-las junto a mim, de mão dadas, ao meu lado..
mas meu Ser involuntariamente cria fogo e minha imagem morre..
minha imagem morre e eu percebo que tudo não passa de uma ilusão,
a casa, a cadeira, o bar, o quadro, a tinta, a nuvem e minha mente.

Monday, September 10, 2007

Momento Interplanetário


Aquele frio terrestre invadia meu quarto,
o único som dentro da limitada caixa onde me encontrava
era de minha caneta e de meu pesado pulso a se arrastar pelo papel.
Através da janela aberta em pequenos centímetros,
eu via a noite nebulosa que escondia em seu manto celeste
a purpurina que ousava brilhar.
Eu procurava um planeta vermelho e um espanador gigante.
De olhos fechados ansiava em sentir ondas quânticas passando
pelo meu corpo, não quisera eu a lambda e sim o início.
Nessa hora estrondosas ondas sonoras matam minha aura sensitiva.
A noite gradativamente mais fria e solitária,
inerte, desconhecida, difusa e surrealista..
Naquela inquietação não vi meu planeta, nem o pequeno príncipe.
As pálpebras se cansavam como velhas,
O dever chamava como um apito,
A cama me esperava como uma esposa,
O tempo corria como um perito,
A cidade dormia sob feitiço,
O guarda apitava como um mudo,
A lua sorria como criança,
O sol já se preparava para brilhar no ocidente... E eu cá, meio lá
pensando em meu planeta e no quão distante deveria ele estar...

Monday, August 13, 2007

Querido Adevindo

Fazia tempo que não te declarava nada,
e no entanto já faz tempo que tu me escreves longas cartas.
As cartas tais, com letras cheias de olhares,
expressões cheias de adjetivos,
abraços com tantos verbos
e metáforas cheias de amor..
Era uma onomatopéia de confusões que nos fazia cair de rir
a beira da cama, do sofá e da mesa de jantar.
Em meio a muita ambigüidade gramatical nos deixamos levar,
chegamos ao clímax pelas anáforas de: eu te amo, eu te amo para sempre, eu te amo até não poder mais, eu te amarei até a morte me levar, até nos levar, até morrermos de tanto nos amar, até esquecer de vida por amar, até amar além da vida..
Não quero nenhuma aliteração, quero verdade em nossas vozes veladas, verões e violões, velocidade, vaidade, volúpia de volemia..
Quero bohemia, esquecer todo amor romantico,
quero deixar as hipérboles de lado!
Não meu caro amigo, não sofro de mal algum
não me encontro carente e nem mais descrente,
estou numa fase do neo-paradoxo velho,
de alguma antítese, onde todos amam, todos odeiam.
Sou fruto da nova geração.

Thursday, August 09, 2007

Sentimentos em Família

Primeiramente, venho cá me desculpar... O tempo vem sendo precioso, e logo por tal raríssimo adjetivo, mal o encontro, deve estar escondido perto do Monte Everest, logo lá, entre o Nepal e o Tibete, quem sabe mais perto ainda, se localizando nas rochas sedimentares do Grand Canyon nos Estados Unidos ou ao lado da bandeira da Rússia cravada no Pólo Norte. Enfim, se eu soubesse o paradeiro do tempo, logo estaria com um porrete nas mãos e faria dele meu escravo, num autoritarismo inescrupuloso. (dá uma risada diabólica moa-ha-ha). As desculpas, vem de lá para explicar, os meses em que não posto nada nesse blog, fato que, não condiz com a minha experiência de escrever, continuo, mas deixando linhas e linhas nos cadernos e em meu violão.

A passagem que agora lhes contarei, retrata minha enorme amargura como mulher, filha e neta. Para as pessoas que foram ao teatro ontem, e viram a peça Entardecer do grupo Dionisos de Joinville- SC, notaram bem os traços de três distintos idosos, ou nas palavras do personagem de Eduardo Campos: "velho não, agora deram para falar idoso.. mas eu sou velho mesmo, idoso é um velho arrumadinho". A peça foi encantadora, a platéia saiu do cineteatro acalentada com uma emoção inesperada que ocorre ao termino do espetáculo, e com doces lembranças de seus queridos vovós e vovôs. Lembranças essas que não as tenho. Um jeito de falar, uma maneira de andar e sentar, um sorriso, uma saudade, aquele amor de vô e neta. Em 1987, Vitor Lopes Portes morre de infarto, em 1994 Brás Corrêa Neto também morre, a causa dessa segunda não me recordo.. Quem cá escreve, nasce num outono de 1991, se vi o senhor Brás, os prematuros 3 primeiros anos de vida, não deixaram em minha mente essa recordação. Em 200o e poucos Marlene Bornemann morre, essa já cansada de uma vida de dependência que a atormentou por mais de 15 anos, sua vida era uma faca de dois gumes, se feria tão facilmente onde quer que ia e com o que fazia, a vontade de netos já gasta, com a vontade de viver já gasta, não reparava mais nos jantares em familia, nas palavras de carinho que a criançada dava, ela apenas deixava estar, como uma figurante apenas, com seus cigarros e suas cartas baralho. Quando eu era menor, adorava os pães e doces que minha vovó Marlene fazia, mas ela fazia para todos os primos e tios, nunca destinava um acalento particular, eu posso dizer que sinto falta até do que nunca ganhei, não era a comida (por mais gostosa que tenha sido) que me faltava, era apenas uma pequena adulação rotulada que "todo mundo diz" que os avós têm com para seus netos. Como todos, os avós são quatro, os dois casais, pais de nossos pais. A ultima personagem se chama Lili Corrêa Portes, que hoje em dia reside em Curitiba-Paraná com seus 84 anos, a mais ativa velhinha que conheço, não se cansa de viajar para sempre visitar seus 8 filhos, trocentos netos, e tantos mais bisnetos... Como podem observar a disputa pelo colo de minha vó é grande, quem hoje rouba a cena nos encontros com a dona Lili é a bela Maria Eduarda, nossa Duda, minha sobrinha de 1 ano e meio; sem contar que a distância e a má localização da casa de minha vó dificulta as visitas. Nisso me vi carente desses afetos, e voltando a peça, pelos fatos a cima, as recordações que muitos gozaram de observar, onde em muitas vezes eram parecidas com de seus avôs, de nada sei.. de nada eu poderia saber.. Mas irei me conservar, para assim meus netos terem essas lembranças: " A minha vovó Vane era toda batuta, fazia doces gostosos, ouvia e dançava rock`n`roll mesmo com seus 70 anos, Papai jurava que quando ele era novo, assim com seus 18 anos, muito amigo dele falava que a vovó era gostosa e queria traçar... mas Papai logo se enfezava, e os amigos mudavam de assunto.. "

e assim vai... hahaha

Wednesday, July 18, 2007

cinza-Tarde-cinza

Em seu relógio as horas eram poucas
eu pensava no verão mas era inverno
A ameaça da chuva calava as bocas
e o vento queimava como no inferno

Reguei meu pomar com toda devoção
aquele de laranjas e limões
mas o frio veio com uma inquietação
matando meus frutos sem explicações

Não colhi mais cor nenhuma, Não sorri de graça alguma!

"Os dias úteis cada vez mais inúteis"
esse é o estranho olhar que venho dando a vida,
à toda forma desconfigurada dos fúteis
no matrimônio da inteligência fingida

Meu amigo Freud, tanto me disse
para deixar de lado essa dor que me segue,
que para o caminho da arte eu fugisse
e não há o que eu negue.

O que me dói transparece..

[detesto o cinza!]

Isso é coisa que acontece..

[o que tem o cinza?]

Logo a gente esquece!

Tuesday, July 03, 2007

INSANIDADE

Era uma salada de frutas: o desejo, a cobiça, a traição, a felicidade e por fim a tarefa cumprida...mas estaria mesmo finalizada? O problema dos homens é a falta de ponderação e limites. Ao fazer o que tanto quis, se deixou levar, escondido suplicava por mais, e foi sempre assim, mais e mais. O medo de tudo aquilo era o fato de se enjoar, enjoar de tanto amar, enjoar de viver e pecar. Estava na serpente do vício, sua cauda em sua boca, num circulo perfeito, o fim não se via, era inevitável e traiçoeira. O que eu faço com ela meu deus?!
Tão impertinente, não abandona minha mente.
É tão ruim se encantar, logo esqueço de mim e do que já fui.
Esqueço da Mi e do pobre Rui.
Daqueles que ao meu lado estavam na noite do porre, da morte e do trote.
Estou encantada por ele, e não há o que fazer,
quantos livros terei de ler para distrair o meu ser?
E qual o motivo de tanta rima?
Tire esse VHS e rebubina, aperta a buzina, chama sua prima,
toma lá da cá, tico tico no fubá.
NÃO!
NÃO!
Ele não saí da minha mente, ai gente, não adianta fazer nada,
quero entrar numa privada, aperta logo a descarga.
Papai sempre falou que eu era a pequena dele:
"Ela é minha menina, o meu orgulho!"
Não quero decepcionar ele, e nem o outro...
A babe, rezar eu não rezo, mas queria tanto que tu saísse de mim,
essa paranóia já não é o playground dos meus neurônios,
virou um rocambole dentro de meu coração.
Se é encanto, magia têm,
se é magia, truque deve ser,
se truque é, saber desfazer deve ser fácil! Fácil como ponto cruz!
Encanto passa não passa? Mas demora quanto tempo seu doutor?
Para sempre são tantas horas!!!! Cansei do relógio,
mesmo nua eu largo ele... ele... o relógio!
Ora, cansei de me encantar, queria encantar os outros também!
Odeio quando os bichinhos teimam em andar pelas minhas pernas
e quando passo meu pesado dedo por cima deles..
soltam aquela gosma escura que suja toda minha calça.
Hoje eu estou de branco, branca calça, roxo vestido, minha pulseira
é colorida, como a bandeira gay. Li uma vez que as cores influenciam
muito no bem estar das pessoas, eu devo estar bem hoje...
Mas e ELE como deve estar? Aquele meu amor, que nem meu é, aquele charlatão que faz seus truques. Alguém deu cores para todas as letras do alfabeto, outro para cada dia da semana... Segunda é cinza, terça é.. terça acho que era verde, não lembro, sei que domingo é rosa ou pode ser laranja, varia, o mundo é relativo já dizia algum pensador.
Água-viva - LISPECTOR - Água-viva
o vento, os carros, o sol que não esquenta, cadê ele para me esquentar? Ele, o meu amor, aquele que nem meu é. Deve estar sem jaqueta ou na sua fria casa, embaixo do gostoso cobertor.
Eu quero comer uma coxinha!
Quero ser saudável, nos EUA os frangos têm muito hormônio,
são mutantes! Meu amigo entendeu molho. Frango com muito molho!
Que fome! Eu estou louca! Meu benzinho falou que vou acabar como
Dom Quixote, e eu só ri e respondi: "Que quixotesco! "
Está certo, não vou mais matar bichinhos inocentes, além de tirar uma vidinha, eu me sujo, e sujo pois quero. O problema do homem é a falta de ponderação e limites? Quem foi o Einstein que disse isso? Não penso o mesmo não!
Como o grande Fernandão Sabino põem na boca de Eduardo:
"Não há problemas, apenas soluções!" (ou algo assim)
Ele e Olavo Bilac não saem de minha cabeça.
"Que quixotesco!" eu respondi.
Estou louca! Louca! E eu te amo e odeio tanto te amar!
Enigmas, esfinges, ele, o encantador.. me lembrou aquele cara simpático da Discovery Channel, brincava com os animais, principalmente jacarés, ele morreu esses anos, foi triste, eu gostava tanto dele.
CHEGA!
CHEGA!
Eu penso em tantas coisas, e ele insiste em atrapalhar, acho que chegou, até Deus têm limites! Por falar em Deus, o sol se fez mais quente para mim, está tão bom, meu pequeno bloco de anotações brilha, ele é tão pequenininho, e eu sou uma louca..
Lembrei dos Namorados, de Manuel Bandeira:

"(...) e o rapaz concluiu:

-Antônia, você é engraçada! Você parece louca. "

Tuesday, June 26, 2007

Gira-Sol Dos Oceanos

–Maria!! –acordei com meu próprio grito recrudescido, acalentado por ter fugido de meu sonho. Em minha frente estava uma linda e assustada jovem, de longos cabelos dourados e cacheados, usava um óculos tão grande que cobria quase toda sua face, o escondendo de mim .


–Calma, moço! –disse a menina, me fitando e dando pequenos passos para trás, receando qualquer movimento – Tu és da onde?

–Bem antes de tudo vem as apresentações, não é mesmo? Me chamo Felipe e você? –minhas palavras saiam animadamente (mesmo cansado e com remelas nos olhos), teria achado uma criaturinha tão doce para me orientar nessas ruas, eu que ansiava pela volta ao lar, a mulher e ao emprego no laboratório mais do que tudo.

–Me chamo Marina. –na candura de sua meninice, em suas bochechas estouravam purpurina vermelha, de vergonha, as quais faziam a pequena olhar para o sujo chão do estábulo se distraindo– O que fazes aqui?

–Estou perdido de mim e do mundo. Com fome, e nessa cidade que desconheço. -mal reparava eu, que a menina estava na flor da idade, deveria estar na faixa de seus 16 17 anos, quando o corpo começa a evoluir, criar formas. Marina vestia uma curta camisola verde, em sua frente tinha a estampa de um anjo, num dizer: "Florzinha de Jesus". Que doce! Eu pensei.

-Sabe moço, não sei se papai se importa que fique aqui, mas Gertrudes, a nossa empregada, comentou horrorizada! "Onde já se viu um andarilho dormir em nossas instalações", pensou que roubaria nosso leite, mas logo vi, que o senhor não teve tempo para nada. -em suas pequenas mãos estava um balde de alumínio, deduzi ser o recipiente do leite, do leite ainda quente, aquele amargo e viscoso recém tirado da vaca, eu que tanto morei na cidade, não aparentava para mim tentação alguma, essas coisas de interior, de simplicidade.

-Cheguei a noite, nem vi o que tinha aqui, puxei um palha e me deitei. Qual o nome de sua cidade?

-Ah moço, estamos no interior de São Pedro do Oeste, mas desculpa a falta de gentileza, tenho de correr que hoje a cidade está em festa! Batuques e... bem, instrumentos de tudo quanto é tipo! Tenho de correr!

E lá se foi a menina, em plena meninice correndo com suas sandálias, deixando a porta do estábulo bater forte com o vento que sua velocidade jazia, com o vento que estava escasso naquela manhã. Queria eu várias meninas em plenas meninices correndo a minha volta para abanar, para mandar fora todo o maldito calor que fazia naquela cidade. A menina se foi, e me deixou como dono dos animais, acho que até esqueceu de ordenhar a vaca, deixou-se por jogar o balde de lado. Resolvi então ajudar, se eu dormi lá, algo em troca eu haveria de dar, peguei o balde, puxei um banco e...

-EU SABIA!! Antônio corre aqui, Antônio corre aqui que esse hippie, esse mendigo, esse sem teto, quer roubar nosso leite!!! -ao gritos entrou essa louca dessa mulata, era gorda, gordinha, dessas que arrastam as chinelas ao andar, que gozam da culinária caseira, dos quitutes e dos temperos, essas que se não fossem mulatas, diríamos parente de algum italiano, aos berros, aos prantos! - EU SABIAAAAAA!!! ANTÔNIO!

-Minha senhora, não estou roubando nada, não veja por mal, estava apenas ajudando a pequena Marina, para a festa de hoje a noite! -sorte minha era a boa lábia, os cursos de oratória vieram em bons tempos, falei melhor que qualquer candidato a presidência, a ministro. No que eu falei "pequena Marina", já vinha entrando o velho Antônio, assim presumo eu; o pai.

-MARINA! Nossa princesa, tire os olhos grandes dela viu moço?! Antônio, peguei ele roubando o leite! Eu sabia! Eu falei! Eu sabia!

-Gertrudes, calma! Deixa o moço se explicar!

-Que intimidade é essa com Marina minha filha?! – eu sabia, pensamento de pai é assim mesmo, que vaca o que, que leite o que, vamos salvar a honra da filha! E está certo o homem!

-Ora, Antônio, não é mesmo?! Vim de longe, de outras águas, cheguei na cidade ontem a noite, sem ter aonde ir, entre a penumbra da noite não vi lugar mais confortante que esse! Deite-me aqui, e acordei com a menina perguntando minha origem, falou sobre uma festa, e saiu correndo, pensei em ajuda-la com o leite, mesmo não sabendo ordenhar, mas tentando ajudar...

-Ah tudo bem vai, estamos em clima de festa mesmo, mas te deixo dormir só mais essa noite, vem cá dentro que a Gertrudes irá fazer algo pro`cê comer!

E fomos para dentro da casa, de arquitetura tal que fiquei impressionado, tão 1500, tão rica no meio da rua de chão, da rua de poeira amarelada. Ela lá, simples e aconchegante, mobilia clássica e inteira, pães caseiros e clima familiar, gostoso como tal, como era!


Friday, June 22, 2007

® Gira-Sol Dos Oceanos II - o sonho

O Sonho

O céu matinha os horizontes de cores fortes, de arder e vislumbrar os olhos dos artistas. Nunca vi a Santa Maria mãe de Jesus, ou grandes reis, com a boca aberta em suas imagens e pinturas. Dentro da arte realista, apenas loucos, poetas, cientistas e pintores eram retratados com tais expressões, como método de diferenciação e preconceito. Nele Maria rodopiava ao som dos umbandas, em meio a orixás, cachaça, fumaças e incensos. Maria cantava, não fechava a boca para nada, nem recuperar o fôlego. Suas pernas eram belas e usava o tradicional manto azul. Bela Maria. Após tanta folia, vi lágrimas em seus olhos, de tempo em tempo a transparente gota se tornava mais densa, de cor mais forte e escura.

Em forma de espirais as nuvens entorpeciam quem as olhassem, as plantas tão coloridas e vivas refletiam no ambiente o cheiro da paz. Mas Maria chorava, não entendi se era por mim, por ela, pelo que acontecia, por porre, mas chorava. Estendi a mão, ela a segurou forte, tão forte como uma grávida no momento que inicia o parto. Já não sabia o que falar para tentar ajudar, e nessa hora ela já não abriu mais a boca para me contar, talvez porque não sabia, mas essa desculpa de não saber, de esquecer, tem sido tão repetitiva que cansou os ouvidos. Só que se nessa hora ela realmente não sabia? Aquele vazio dos homens de pouco trabalho, de mentes espaçosas poderia ter a contagiado.

No fundo de seus olhos me vi, me vi como a esperança que acalenta o peito dos jovens perante as injustiças, a sede vanguardista. Vi que me doía as lágrimas de Maria, fosse quem ela fosse. Mas o que faria um pobre pé-rapado como eu, sem eira nem beira. Se na vida eu era um prematuro, um cigano, principalmente nessa vida nova de que nada sei, nem o lugar que me proporcionou o sonho eu saberia dizer, imagine fazer aquela mulher parar de sofrer da dor que não existe.

® Gira-Sol Dos Oceanos II

CAPITULO II

Perdi-me em meio às divagações mentais, e sem perceber, logo entre devaneios eu já estava em outra realidade psíquica, ou não tão psíquica, sendo que para mim todas as realidades o são. Essa menos utópica sem anjos e sem espadas, apenas, homens e armas. Encontrava-me numa praia a qual nunca visitara antes, era limpa, tinha suas águas cristalinas e não havia muito contato com a civilização pelo jeito, acho que algum ministério tomou providencias sobre a preservação do local. Saí atrás de algum barco, de alguém para me orientar sobre aquela localização. Com minhas pernas bambas, em movimentos involuntários elas me guiavam, rápidas e ágeis como os golpes de antigos samurais. Vi-me com medo, como uma criança ao dar os primeiros passos. Decepcionado em mente, meio inconsciente, meio descrente subestimei minhas pernas e elas triunfaram, funcionaram magnificamente; mal pude notar que já me encontrava a 5 pés do porto, onde um grupo de pescadores se encontrava.

-Desculpe-me incomodar, mas você poderia me informar onde exatamente eu estou? Estava de passagem por essas estradas e acabei por me perder aqui. (a desculpa sobre uma tal viajem veio em boa hora, só que a duvida se realmente haveria alguma estrada perto daquela beira-mar era perturbadora).

-O moço, ocê me descurpa má é que moro noutro lado do mar, vim apenas pescar uns peixes e logo me vou embora.

(O homem tinha a aparência de uns quarenta anos, mas seus olhos e seu sorriso desmentiam, aquele velho corpo, era o que o sol tinha lhe proporcionado).

-Então, poderia me levar contigo para o outro lado do rio? Se não for pedir de mais?

-Mas claro uai.

Sobre o crepúsculo, o abandonar do sol, a noite me pareceu a mais escuras de todas as outras. A fonte de energia daquela pequena cidade a qual o simples pescador havia me levado pifou, não sabia exatamente o motivo, mas vi de longe toda escuridão e paz no vilarejo. Sozinho, caminhei atrás de um lugar para dormir, perdido naquelas estranhas ruas, sem saber que destino tomar. Deparei-me com um grupo de homens, todos uniformizados em ternos negros, correndo pelas esquinas, marchando em ritmos acelerados tão quanto meu coração se encontrava.

As janelas das casas pelas quais passei, permaneciam fechadas, num ritual homogêneo e predominante, deixando escapar pelas frestas, das carentes portas, apenas, fachos de luz proporcionados por velas. Além dos cães e gatos que passeavam e rosnavam nas calçadas, não se podia ouvir som algum, nenhuma música, nem sequer uma conversa abafada ou jovem enamorados. Senti calafrios, me igualava a um estrangeiro, um forasteiro não de outro país, de outra cultura, mas sim de outro mundo. Apalpei meus bolsos na interrupta esperança atrás de meus cigarros, mas retardando meu câncer, não os achei, eles já não estavam mais lá. Vi certa dificuldade em caminhar, sem saber para aonde iria. É realmente incrível o poder de nossos olhos, após minutos de mais caminhada senti minha pupila triplicar, me acostumei com a falta de iluminação. Deixando em ênfase o contraste do antes e depois, do inédito, do nevoeiro, da cerração, me veio a clareza.

Brr, Brr. A barriga, alertava á fome, o cansaço e a friagem. Contemplei de longe um estábulo, diferente do livro de São Mateus, dormi lá entre os animais, como único esconderijo, sem pensar duas vezes, vendo a primordial difusa tarefa de deitar. Esses últimos passos foram os mais difíceis e mais pesados, como se pesos de 20kilos a mais se concentrassem em cada uma de minhas fracas pernas, enfim cheguei. Ajeitei a palha, fiz com parte dela um travesseiro, um cobertor e uma cama, um ninho, meu conforto. Que grande maravilha foi! Que grande maravilha é repousar, não sentir peso algum, a inércia da física passando das variáveis para a nula. Dormindo eu esquecia minha fome e meu medo.

Passei do não tão real, para o surreal inevitável, o tão maior paradoxo obsoleto que reinava dentro de minhas sinapses quando me via inconsciente. Na liderança do meu eu desconhecido, (daquele que raramente pronunciamos e vivemos desencontrando) me restava somente algumas pequenas lembranças, tão rápidas e sórdidas que ao acordar, logo me esquecia.

® Gira-Sol Dos Oceanos I

CAPITULO I


Vi meu fim, inconsciente eu lutava contra os anjos. Morri dormindo, desconhecendo os porquês das coisas, e sem saber as respostas para as três perguntas sobre a existência do homem. O salão de batalha era pálido e sem adereço algum, a única lâmpada velha e cansada piscava em meio a minha exausta tentativa de vitória. Combatia pela vida mesmo sem compreender o sentido dessa necessidade que tanto me torturava, que me sugava sem motivos. Gabriel tinha a agilidade dos competidores de esgrima, quanto a mim? Não havia nem terminado as aulas de capoeira que me era oferecida pela mocidade de minha terra. Meu mórbido e dopado corpo mal desviava os golpes, me entregando as inchações e a cólera como quem nunca viveu em Esparta.

Não pedi clemência e vieram consecutivos ataques. As lembranças da falsa memória vieram à tona, igualando-me a um pequeno tradutor de romances internacionais, distorcendo a real verdade, dir-se-ia que sou um leigo para lhes informar com exatidão as maravilhas e tristezas que passaram pela minha mente, relembrando de toda minha gente e das prosas que ainda não terminei. Fadigados, os anjos em plena divindade se colocaram a postos para me ouvir. Supliquei, lhes contei minha história e meus anseios, mas não como um poeta bem o deveria fazer, contei como um desesperado, um nato pobre coitado que de pouco estudo já esqueceu de todas as formosuras da língua culta, agonizando por dias a mais, pela vida que havia desperdiçado e que haveria por direito de recomeçar.

Tão poderosa era aquela força, clara e equilibrada, tinham o dom da reencarnação, da vicissitude. Gananciosos brincavam com meu medo e minha pusilanimidade. Amarraram cordas em meus pulsos e pés. Estava armado o grande espetáculo de fantoches! Eu rezava para Deus, mas das prezes não vieram respostas. Talvez pelo fato de que nunca tive muita fé, não ter o habito de ir à igreja, e em contra-partida destes, era a vingança sagrada. Estava correto que não devemos rezar só na hora de sofrimento, mas se é só nessas horas que vejo razão e indigência, o que fazer? A fé é de tão grandiosa magnitude, tentarei não colocar toda ela num único ser que desconheço, colocarei em mim! Subir-se-ia ás alturas em saber que o pensamento positivo pode nos ajudar tanto, principalmente se ti mesmo o experimentas.

Como dentro dum filme de Domingos de Oliveira, os anjos (que ao meu ver pareciam grandes crianças em máxima malicia e perversidade) pegaram uma moeda, e na desesperada brincadeira de cara ou coroa, eles tinham meu destino em suas mãos, donos do mundo, donos da vida, subordinados de Deus.

Dentro do salão, pela falta de janelas, pela falta do ar (grande falta essa última, que tanto me sufocava nas horas de luta) a moeda girava em sincronia perfeita, eficiente e ligeira. Meu medo agora era de que os anjos se inspirassem no poderoso santo hindu Satya Sai Baba que enganava o pobre Krishna ao perguntar as cores e quando ouvia a resposta correta, logo fazia a cor do objeto mudar censurando seu aprendiz pelo erro. E se caísse o lado da vida, mas a transformassem no lado da morte? Não, eu deveria ter fé de que eles não fariam isso nem comigo, nem agora!

Sem mais anedotas, tinha chegado a hora, faltavam quatro voltas para a moeda cair nas mãos de Gabriel. O nervosismo fazia com que em meu rosto, gotas de suor deslizassem vagarosamente me trazendo arrepios. Nas mãos, a imprevisível oscilação, nos neurônios os repetitivos vilipêndios.

Ela caiu, corri em direção a ela, para ver o resultado. Com os olhos cheios de lágrimas, com a boca fogosa para gritar pela vida, a moeda caiu, caiu e foi com o lado da minha salvação! Não contive o sorriso irônico, transparecendo nele uma pequena frase apenas; “ganhei seus otários!”. Havia ganhado uma nova chance, dessa a qual eu zelaria muito mais. Mas eu zelaria no que? Qual o motivo de que raios eu tanto quis a vida? De que mudaria minha morte? De que mudaria minha morte, se na vida eu era um aprisionado do tempo, tempo esse que é a vertente de todo o mal. Em tudo no mundo, (graças ao tempo) surgem oportunidades para nos guiarem através do mal. Vejo que o bem ainda não foi banalizado, que vem sendo coisa tão rara quanto o celibato e a humildade. Não quero viver como um sarcástico, um glutão, que para conseguir se dar bem precisa passar por cima de outros transeuntes. Preferia agora nem viver!

Wednesday, June 20, 2007

Eu Sei

você, precisa saber

lembrar de seus deveres, dos seus prazeres


você, precisa lembrar

saber lidar com sua liberdade, com a sua vaidade, com a sua maldade


você precisa, você precisa

eu sei, leia na minha camisa, ou na minha TESTA!

Tuesday, June 19, 2007

Francamente!

Joguei fora meu urso, ele era tão pesado, me cansava as costas e os estímulos. E eu que fiquei todo esse tempo brincando de gente, que pulei errado, que não deu certo e caí para fora da corda. Aí, acordei estendida em minha cama, olhei para o lado e na minha janela apareceu um lindo pássaro azul, assobiei e ele me surpreendeu falando poesias, assim corri da cama e ele dançava no ar, vestia meu vestido e ele me ajudava. A meu passarinho, me larga nunca mais não! Já gosto de ti! E assim notei, em sonhos a gente também pode se estrepar e vivendo podemos nos realizar. Jogue seu urso fora!

Wednesday, June 06, 2007

p&b

Negra revolução, Negro descontentamento
A pólvora sem valia na manhã do novo dia.

Negra esperança, Negro céu
As estrelas a guiar esse mar a nos embalar.

Branca arma, Branco peito
Correntes nos pés e mãos separando amantes e irmãos.

Negra mercadoria, Branca ilusão
Fronteiras de diferenças, mesmos temores entre crenças.

Branca gratidão, Branco consentimento
O poder da pequena criança, controlando países de liderança.

Branca sabedoria, Branco sem destino
Assinaturas em vão, idealizadores sem razão.

Negra coragem, Negro respeito
Gente vendendo gente, maldição contingente.

Negra traição, Branco aproveitamento
Falta escrúpulos, falta paz.

Negra e Branca igualdade,
utopia por um mundo sem maldade.

Friday, June 01, 2007

Mau Entendimento

-Filha avisou seu pai que não precisava passar na padaria hoje?!
-Ai meu Deus, não avisei!
-Oxi menina, é que vem um temporal danado lá fora!!!

Um corpo resfriado, quase mórbido pela cama e pães sobre a mesa.

Monday, May 21, 2007

Notas e Acordes


Meus dedos calejados latejavam!
A noite longa se fez dia
nossos olhares não se encontravam
e meu violão deixado de lado, se entristecia.


Atenuadas, minhas cordas tremiam.
Mudavam de comprimento
a todo o momento...
E da minha canção elas riam


Prometi-te uma bela entonação
Mas o caos me tomou,
o caos me afugentou.
minha realidade virou uma alucinação.


Sunday, May 20, 2007

Sem Contato


O dia foi longo como todos esses domingos.
Meus órgãos se contorciam cada vez que o telefone tocava
pensavam que eras tu... mas que sutil engano...
Ao descobrir quem era o estranho que se encontrava na outra linha,
em aguçados impulsos, após minutos, eles se acalmavam.

Todos esses movimentos involuntários me deixaram cansada,
Cansada e enjoada. Pergunto-me agora:
“Cadê tu para cuidar de mim e me abraçar?”

Não vejo mais toalhas quentes, nem chás.
Não vejo também seu sorriso, nem meu sofrimento.

Aquele aperto no peito às vezes volta.
Mas os 8 palmos e meio já morreu,
com toda sua alegria, trancada em longínquos momentos.

Tu me pediste para ser sincera, me pediste para ser forte.
Mas nas palavras de Manuel Bandeira encerro este trote

“Eu faço versos como quem chora
de desalento... de desencanto.”

Manhã De Outono


A manhã se fez calada,
a trilha sonora cotidiana tomava conta da sala de aula
mas me encontrei em uma silenciosa e cinza exclusão
sentia saudades das cores, só que mesmo presente
elas se faziam tímidas e se escondiam.

A manhã se fez fria,
as inúmeras blusas pesavam no corpo dos estudantes
e abafavam assim, qualquer espontaneidade
e a tentativa de concentração gratuita, nada de amantes.

Em meio a toda bruxaria da Mesopotâmia
nossos corações batiam agressivamente
e nossas mãos tremiam pela paz compulsivamente.

O relógio demorava a completar seus 360°
havia surtos de ignorância, surtos por uma revolução
another brick in the wall não gerou mais tanta convicção

A manhã se fez triste,
triste como os casais separados, e como minha mão longe da sua
ouvindo seu nome saindo várias vezes das bocas colegiais
me vi calada, me vi fria e me vi triste... como aquela manhã

Friday, April 27, 2007

as suas e as minhas realidades - final


Depois de horas a dançar, John percebeu que estava demasiadamente tarde e deveria regressar a sua residência. Ao se despedir de Anna, a pequena o fez esperar por mais 5 minutos, sumindo por entre as barracas. Ao voltar, trouxe uma escultura em gesso, que moldava duas mãos dadas, bem distintas, uma pequena, aparentemente de criança, e outra larga com várias rugas.

-O que ela representa? –perguntou John curiosamente.

-Sempre pensei que a arte não deveria ser explicada, se minha obra não significa nada para ti, sinto que errei. –e uma leve tristeza passou pelos seus olhos- Eu estava a guardando, para alguém que achasse especial, pensei que eras tu!

-Levarei sua escultura comigo, e pensarei! Sinto-me lisonjeado. Mas agora tenho de ir, obrigada pela noite. Prometo voltar mais tarde!

Um beijo na testa selou a despedida, e John voltou a fria rua. Recusou todos os táxis, estava decidido em caminhar e pensar sobre a noite que passara. Ao se ver na praça do centro da cidade, avistou um velho homem deitado sobre um dos bancos de madeira, no lado desse, havia uma placa dizendo: “Querido povo, sou deficiente visual, estarei grato com qualquer forma de ajuda!”.

Não encontrando dinheiro algum entre seus bolsos, John sentiu-se o mais inútil e desprezível homem. Se via infeliz em não puder ajudar e ter de aceitar situações como essas em uma sociedade que se dizia tão democrática e humanitária. Nisso, em pequenos grunhidos, o céu começou a chorar, de gota em gota, e o cinza predominava. Se aproximou do velho que se despertara do sono com o barulho e falou:

-Senhor, aceite esta escultura, que é tão rica em detalhes! Quando estiveres triste, junte suas mãos a essas e veras que não estará sozinho, que persistira a esperança de outras mãos amigas para te ajudar. Como procurarei fazer em outra oportunidade. Tome velho e cuide bem dela, esconda da chuva! Preciso correr, adeus!

-Obrigado rapaz, foi certamente o melhor agrado que recebi! Que Deus te ilumine, obrigado novamente!

Desviando de cada poça, John chegou em casa, cansado da maratona que percorrera, acendeu seu charuto e deitou-se sobre o sofá ainda com suas vestes molhadas. Refletira em tantas coisas que aprendera, algo tão inédito, que em apenas uma noite, uma, viu o que era a simplicidade, o amor verdadeiro, o belo que John tanto ansiara descobrir. Algo que nunca lhe foi proporcionado nas fraternidades da elite. Via-se mais feliz que nunca!

Tirou o dia para descansar, afinal chegara 8 horas em casa. Mas até final do dia permaneceu deitado, ainda com cansaço e febre. O mesmo permaneceu por mais 6 dias, só que dia após dia, os sintomas iam adquirindo mais força. Não viu mais Anna, e nem pode ajudar mais o velho da praça. Impotente, no sétimo dia, não resistiu a pneumonia, e com o fechar dos olhos, todos seus outros sentidos se desligaram. A morte invadiu o quarto de John, e nenhuma sinfonia alertou seu fim.

Wednesday, April 18, 2007

as suas e as minhas realidades - primeira parte


John estava no patamar, tremulo sobre o mármore, contemplando de longe toda a beleza de uma tal rapariga, que ria como criança dos singelos encômios a ela dirigidos. Através de seus olhos podia notar toda melancolia, seus lábios até podiam mentir, mas seus olhos, esses não. Pamella aparentava 17 primaveras, como uma distinta burguesa, bela e graciosa. Nunca fora casada mas os pedidos para sua mão eram inúmeros, gostava de manter seus amantes, seus flertes e jamais pensara em ter seu coração invadido por alheios, pois tão pouco cômoda essa situação seria.

Era mais uma das famosas festas da família Dratonn, muitas bebidas, comentários sobre arte, escritores famosos e outros nem tanto, deputados, cientistas, ricos e aqueles bajuladores de sempre. A massa infectada pela epidemia contemporânea, onde a insatisfação é excelsa. Todo aquele desfrute sobre os subterfúgios intelectuais, estrofes ensaiadas, faziam no estomago de John, voltas e reviravoltas. Não que ele se achasse um desconhecedor ao lado desses, mas apenas não era um falso e não via necessidade em demonstrar suas faculdades em ocasiões de festa. Pois em dias de romararia, pensava ele, o fútil do inútil preponderava, o riso era mais importante que pseudo-discussões.

A única saída era se entregar aos vícios, degustar cada baforada, e absorver cada ml do elixir. Encontrava-se cansado daquela leviana contaminação, queria explorar o belo não precisando se incumbir em mostrá-lo, mas ao mesmo tempo percebia a necessidade de uma companhia, e de preferência feminina. O velho relógio de corda alertava as horas, eram 02:00 quando a fria madrugada começava a se exaltar. De súbito, enquanto John lia uma obra anônima, a biblioteca do anfitrião T Dratonn se enchia de vida e perfume. Quem acabara de entrar era Pamella, que a essas horas se descobria em completa obediência.

-O que estais a ler meu querido?

-Uns rascunhos, mas desconheço sua origem, deixe-me recitar:

“De belas palavras se fez a poesia

De ritmados acordes inaugurou-se a música

De todo sentimento nasceu a arte

e de todo carinho cresce o amor..”

-Oras, o amor... és apenas uma utopia criada por pessoas como vós.

-Minha donzela, creio que julgas mal á reputação dos escritores, se os legados na historia de “nossa criação” não fossem tão exorbitantes, até supostamente acreditaria em vossas palavras.

-O certo é não se deixar depender, como faço! Como Casanova tanto adorava. Ter vários amores...

-Nem sempre é assim!

-John, nossas noites foram ótimas não foram? Nos divertimos tanto, se existisse o amor no meio, teria estragado tudo.

-Não vejo o porque. Tu foste minha linda Babilônia, onde mal pude me aventurar, eu como estrangeiro nato, só fiquei com cinzas da cidade fantasma.

-Não me faças rir John – ria abanando o leque sucessivamente – Sabes que minha afeição por ti é imensa!

-Então, me digas a razão com que paraste de me procurar? – juntando assim o corpo da pequena ao seu – Me dói tanto te ver sorrir a meio outros braços.

-Oras, pensava que gostava de voyeurismo! – e sua expressão não mentia toda malicia e satisfação que o momento de sarcasmo a proporcionara.

-Não sei o motivo pelo qual continuo perdendo o meu tempo! – largando-a e se direcionando à porta – Tu nunca mudas!

-A depressão bipolar não me atrai, e confesso viver muito bem assim!

Os efeitos de tais palavras se fizeram como feridas. John saiu da biblioteca sem despedidas, passou pela cozinha, surrupiou um vinho e fez da escura rua, sua meta. Andando ouviu a sinfonia de Bach, típico violão clássico. Seguiu correndo, saciado pela fome de acordes, até que parou... quem tocava Bourre, era um grupo de ciganos. O medo naquele momento não era plausível, então não se conteve ao ficar sentado admirando toda a técnica, mas algo o impressionou ainda mais. Uma bela mestiça que rodopiava junto aos seus lenços e miçangas, deixando seu longo e cacheado cabelo vermelho acompanhar o ritmo.

Quando a música parou, John nota a aproximação de três nômades:

-O que faz aqui? –pergunta um deles, de porte físico musculoso e rígido.

-Apenas estava passando pelos arredores e me encantei pela música, poderia ficar aqui de longe, ouvindo? –responde o flagelado John, magro e alto como tal.

-Diz aí Mileto, hoje é dia de festa, não queremos encrenca, aquela briga anterior já foste cansativa. –diz o segundo de expressões submissas.

-Tudo bem Alexandre, deixamos o rapaz ficar! E Julian, pegue esse vinho para festejarmos - E assim o terceiro, rouba pela segunda vez a garrafa, e junta-se aos outros em volta da fogueira.

Aos poucos John vai se aproximando, perplexo com a nova realidade! Cabanas, carnes ao fogo, pés descalços sobre o barro, algo fora de todos os padrões que havia presenciado até então.

-O que tu vês de tão magnífico senhor? –interrompe-o a mulher dos lenços.

-Pude notar que o mundo da segurança anda num paralelo bem distante do mundo da inteligência.

-Esses mundos, seus e de Platão, não vês? Não percebes que é único? Varia com o jeito de como tu observas e desejas que seja.

-Qual seria o seu pequena?

-No caso, apenas o mundo das sensações.

-Confesso que ando meio descrente sobre esse “sentir”.

-Dê-me sua mão, veremos o que a quiromancia pode nos dizer!

-Creio que veras nuvens de incertezas.

-Tu não és nem um pouco quixotesco! – ri num silencio abafado – Sua linha da vida é reta, demonstra rigidez no modo de viver. Ela nasce cortando o monte de Marte inferior, o que explica sua baixa auto-estima, mas um traço a corta, parece que viverás mudanças!

-Como podes saber tanto de minha vida, e ainda não sei nem vosso nome?

-Me chame de Anna.

-E tu de John.

-Diga-me John, tu danças?!

Thursday, April 12, 2007

sandálias e cores


Minha princesa Isabel, esconda sua boneca de pedra
esconde que o Careta vem te roubar à noite, enquanto dormes
Enquanto sonhas com teu amado e se vê distraída
coisa que o Careta sempre faz, e na manhã seguinte vende

Essa é a noite dos mascarados e eles não vão poder te proteger
o cavalo branco fugiu, e o bumba meu boi tirou férias

Vá princesa Isabel foge do Piauí, vá com as velhas sambistas
se junte a elas na roda atrás de esmolas para fazer o doce
pulando pelas ruas, com o suor de seu corpo
quem sabe São Cosmo e São Damião te escutem

Vá minha linda, e não perca esse sorriso do rosto
e não olhes para trás, seu sangue negro é de tanta coragem
só cuidado com a dança de São Gonçalo, oia meu deus!
cuidado com os pés, é lá que as prostitutas se curam..

Homens brancos, mulheres e meninos e negros,
com violas, pandeiros e adufes, com vivas e revivas
Foi para onde Isabel foi, mas no meio de tanta folia
de tanto riso, ela some.. como divina, como uma santa
por entre as ondas do mar, por entre a luz do luar..

Sunday, April 08, 2007

no samba do amor


querida, vem comigo
o baile já está começando
a pista vai se enchendo aos poucos
os músicos vão se preparando
as saias das pequenas estão girando

querida, vem comigo
vem que hoje tudo vai rolar
deixamos o ritmo entrar
no nosso corpo até delirar

querida, você diz que minha poesia é desfalcada
que minhas rimas são clichês, mas pequena
saiba que são puras, são de todo meu amor
e do que mais nós precisamos?

eu poderia fazer uma serenata
mas falta umas cordas no meu violão
então sobe na minha vespa e vamos sair desse sertão!

todos dançam, o tropicalismo voltou..

sob minha cabeça, as luzes
sob os meus pés, os seus
desculpa, desaprendi o verso

e você me vem com esse sorriso maroto
que me prende, que me faz suspirar
como é bom te amar!

querida, vê como todos parecem felizes
os cigarros e as bebidas se fazem tão inofensivas
contigo ao meu lado, com esses olhos brilhando
pareço uma criança em dia de festa

e que continue assim..
que o baile nunca termine

Thursday, April 05, 2007

O fútil do inútil



Então era isso, a sociedade vive vigiada

em suas ações e em suas emoções

nunca mais foste amada

girando apenas em torno de difusões e lamentações


Observando a tudo e a todos

limitando-se ao padrão

sua meta é generalizada em toldos

algo em que nunca vi razão


Quem se lembra da ética?

tão suja e forjada

esquecida pela hipocrisia da estética

maleável e inconstante como a arquibancada


Mas agora silencio, que a novela já vai começar...

Friday, March 02, 2007

estrofes da experiência


Como podes minha bela criança

Sair tão depressa dessa dança?

Antes brincava alegremente pelos pastos

e ninguém via medo através desses passos


Hoje minha pequena anda escondida

Com medo do sol, e da chuva desprendida

No verão anda só de sombrinha à se proteger

em dia de chuva tanto a temer!

Não sai de casa e se deixa entristecer.


Ela chora falando que a culpa é de Deus!

Mas que Deus seria capaz de mudar sua natureza?

Seu querido pai, seu querido vô, fazem parte da realeza

A verdade usa máscara, e minha pequena que paga.


Como eu queria poder mudar o mundo para meu doce

Fazer tudo lindo como outrora já foste,

Mas por enquanto canto minhas lindas canções

e para ela é voltada todas as inspirações.

Thursday, February 15, 2007

Brincadeira de Movimentos - Professor Rogério Bozza - Lala Schneider - 14/02


Movimentos – ROTEIRO (Lidando com a Improvisação III)

Cena I, primeiro ato.

Marisa acabara de sair de casa e se via atrasada para seus passeios matinais, que se baseava em alongamentos, corridas e paqueras. Com a mão direita, alongou seu pescoço. Lembrou-se de que estava sem maquiagem, e passou uma singela camada de batom em seus lindos lábios, o que a tornaram com mais vida, e mais bela ainda.

Segundo ato.

Ao longo do percurso, de longe Marisa via Felipe, que alongava seus braços para trás, depois para cima. Distraía com a estonteante visão que para ela era proporcionada, deixou cair acidentalmente seu aparelho de som. Nesse momento se abaixa, com a mão esquerda, e pés esquerdos sobre o ar, ela segura o delicado toca fitas e se levanta. Ajeita o sutiã, estrala os dedos e pensa: “ vou logo falar com ele, vou conseguir.. hoje vou “.

Cena II, primeiro ato.

Mas sem perceber um menininho de no máximo 9 primaveras, ao vê-la se arrumar, brincava e ria sem parar, a imitando mas de modo mais provocativo, lambendo os dedos e depois os passara entre os mamilos, e depois fazia caretas com seqüência de bicos.

O clima do parque era delicioso, quem sabe pelo fato do tardio acesso a globalização e tecnologia, nessa que era uma cidade do nordeste brasileiro. Fazia muito sol nesse dia, várias pessoas nadavam no rio, enquanto outras faziam caminhadas e exercícios nas trilhas. O som de braçadas para frente, a água batendo, risos e passos contagiavam o local. Um grupo de crianças fazia coreografias com chutes com a perna direita, para lá e para cá. Outros alongavam a perna esquerda para trás, em um ritmo tal qual deixavam seus telespectadores pasmos com o tamanho da graça e jeito. Uma professorinha do colégio rival, até fizera uma banana como ofensa, mas ninguém ligou.

Segundo ato.

Felipe se alongava para a direita, e para esquerda, em passo ritmado. Marisa tentara chamar a atenção, rodopiando junto com uma pequena bailarina. Ao lado outras bailarinas dançavam se jogando para frente, com os braços para cima, e pulando. Mas não foi preciso tanto... Nessa tentativa atrás do vírus de empatia, para se saber o que se passava pela mente o “gato”, a namorada do mesmo chega, o beija e saem de mãos dadas. Pobre Marisa, tanto para nada.



Aluna: Vanessa P Bornemann e Corrêa
(brincando apenas, brincando.. não deu muito certa a junção dos mov.)

Saturday, January 06, 2007

Diálogo, parte I ( Felipe e Otavio)


- Felipe, que bom que veio! Não sabes como estava angustiado á procura de um amigo, minha vida anda tão maçante, pareço-me com uma criatura depravada e degenerada, como um objeto. Já dizia Sartre em sua filosofia existencialista, como se minha liberdade e minha existência não servissem para nada a não ser para aumentar meu medo, para ser fonte inesgotável de um terror intenso que logo será acalmado com a minha morte... - dizia lamentavelmente as palavras como breves sussurros pálidos de aflição – minha morte... parece estar próxima sabe?

Com uma falsa expressão de espanto, Felipe, se preparava para o longo discurso que presumia o amigo começar. Acendeu um charuto que se encontrava na mesa em meio a tantos outros, e se ajeitou em uma acomodável poltrona de cetim. Não que ele tratasse Otavio com indiferença, mas aquela não era a primeira vez que o amigo se confessara sobre a morte. Estavam a tomar café na biblioteca da mansão de Otavio. Era sem duvida um lugar fabuloso! Infinitas coleções de livros, com o melhor que poderia se encontrar de toda literatura, química, física, filosofia e historia. Sobre a escrivaninha estava aberta a obra do alemão Oswald Spengler, “Hora da Decisão” que condena a democracia, o pacifismo, o internacionalismo, as classes inferiores e povos de cor. Otavio era um tradicional burguês, herdeiro de muitas terras que nunca dera muito valor ao trabalho, e que se divertia lendo esse estilo de filosofia social e política do século XX. Achava de uma protuberância particularmente intrigante e irônica o modo como gozava com a agregação de seus gostos e regalos visando os alheios. Ele com sua despoetizacão da arte burlesca futurista unida ao dadaísmo, contra a massa e seu realismo deveras confortante. Fingindo-se interessado se pôs a perguntar:

- Mas meu querido, tu me pareces alguém tão realizado! Tens dinheiro, uma bela família, e as infinitas bocas das tantas raparigas que te desejam... as que tu quiseres! Seu sucesso é invejado por muitos. O que mais queres? – mas o que passava pela sua cabeça não era a pena pela tristeza do amigo e sim uma frase de Montesquieu: “Qualquer pessoa que tenha o poder, tende a abusar dele”.

- Numerar minhas qualidades meu caro, sinto que não irá adiantar de nada . Sinto-me um satírico! Sabes o que é ter tudo isso que falaste e não ser realmente feliz? Uma verdadeira hipocrisia tu pensarias. Mas acho que todo esse meu estudo voltado a humanas, arte e sociologia minhas preferidas, poderia servir para alguma ajuda a humanidade, e se não fazer nada, irei sofrer conseqüências em um futuro não muito distante. Vou te contar mais detalhes, só não me chame de lunático! Odeio essa mania, que vocês psicólogos tem de analisar e rotular todos, até os amigos e ...

-Otavio! Estou aqui para te ajudar como um irmão, não como um psicólogo, mas se não quiseres minha ajuda e continuar com esse pensamento ignorante e baixo sobre minha profissão, sinto te informar que irei embora! – que Felipe estava tenso era verdade. Cultivava seu trabalho com tanta obsessão que qualquer crítica sobre, era interpretada com muito desgosto. Outra que seu “amigo” não se censurava por tais comentários indesejáveis e repetidos em tantas voluntariamente, sentia-se tristemente ofendido.

-Tudo bem, não vamos começar uma discussão, não agora. Continuando... a menos de uma semana, após realizar umas das minhas tarefas cotidianas – olhando para seus cachimbos e se divertindo com a madeira entalhada, ao falar, citava as palavras com calma se relembrando de cada momento que iria descrever, com força e vontade, deu uma pausa e continuou – A quem quero enganar? Tu sabes, depois que voltei de um dos nossos mensais encontros da Maçonaria, estava a refletir sobre os valores ensinados, o que nossa fraternidade tanto preserva.. as virtudes do homem! Cheguei em casa, todos estavam a dormir. Minha pequena Sofia, minha linda criancinha cochilava agarrada em uma bela boneca de porcelana, fiquei comovido com a cena que eu raramente presenciava, sempre envolvido com outros negócios, não me tornei um homem muito voltado à família, mas me pus a pensar sobre o destino de minha querida, nesse mundo o qual Sofia terá de enfrentar! Tantos homens grotescos e aproveitadores ela conhecerá! Homens como eu acidentalmente acabei me tornando, sem escrúpulos, vingador, irônico e principalmente; capitalista.

-Mas Otavio, veja em que realidade vivemos, esses socialistas.. e esses miseráveis comunistas onde estão? Nosso poder econômico, tecnologia, saúde, educação, está entre uma das melhores! Tal ponto que uma sociedade socialista demoraria muitos anos a chegar. Claro que a educação em Cuba é boazinha, mas as condições daquele país, chega a me dar náuseas. Maldito, Karl Marx, com suas idéias revolucionarias de transformação e mudança, lutas de classes e tudo mais. O socialismo é muito, muito bonito, mas não passa de uma utopia. Então não queiras se julgar, estas no melhor caminho que um homem hoje pode se encontrar.

-Sei que esse meu pensamento devasto é contra toda minha cultura, todo meu crescimento e desenvolvimento. Meus pais sempre me ensinaram a viver nas normas cujas raízes estariam nas contradições internas do feudalismo medieval. Proletariado servindo a nós, á burguesia. Mas ando percebendo injustiças por entre esse meio de riquezas e bens.

-Não me faças rir! Tu nunca botaste o pé em suas lavouras, nunca se interessaste pelo trabalho. Sempre dava seus discursos sobre “ Labore est orare* O trabalho não passa de uma droga, distrai simplesmente o espírito, faz com que o homem esqueça de ti mesmo. O trabalho lhes da a ilusão confortadora de que eles existem e até que são importantes. O evangelho do trabalho, não passa do evangelho da estupidez e da covardia“

-Ah – e soltou uma leve risadinha desanimadora – Creio que não me faço entender. Entendas que algo em mim mudou, agora em meus 38 anos, confesso te que sou outro.

-E confesso, que pretendo te internar! – rindo euforicamente Felipe pode perceber pela expressão de Otavio, que não foi um bom comentário, mas não se parou, gozando de sua vingança, se pôs a rir mais. – Pobre Otavio, andas bebendo demais!

-Maldita poligamia, até tu meu amigo, agora ri de mim. E se eu te contar que essas minhas idéias brotaram a partir do dia que conheci uma rapariga idealista?! Toda sua paixão pela corrida atrás de um mundo melhor, transparece tanto que ao olha-la fez crescer algo desconhecido em meu coração. Algo em que beleza alguma poderia meche, toda a convicção, determinação e intelecto de minha pequena Manuela me fez sentir mais vivo, e todas minhas impotências de atitudes se esvaem.

-Essas mulheres... – disse Felipe, fazendo um gesto de desaprovação com a cabeça - O amor já acabou com a vida de muitos! Cuidado por onde andas, não fique a se iludir com beijos, olhares e abraços. São todas umas sanguessugas, querem toda atenção, dinheiro.. e logo começam a mandar em sua vida, em sua roupa e até mesmo em seu cabelo.

-Não penso como tu! Vejo nas mulheres uma bela fonte interrupta de inspiração, graça e beleza. São essenciais, por mais que digas tais blasfêmias sobre elas Felipe, duvido que consigas viver sem. A não ser claro – se privou rindo mas não conseguiu segurar – se tu fores homossexual! Como os gregos.. “a mulher é considerada impura”. Ah és tudo conversa!

-Então, não vamos rotular as mulheres.. e sim o amor... O amor é destrutível!