Friday, December 29, 2006

na madrugada vitrola rolando um blues

Eram 4horas da manhã e tocava BB King, os sonâmbulos da noite vagavam atrás de liberdade, enquanto sentado em um confortável banco de estofado verde musgo, que se dava em frente a uma coleção estonteante de bebidas, licores, whiskys, eu os observava. Fiquei ali até as 6horas, minha tônica já não tinha mais gás e deixava assim a vodka mais ardente que de costume. Pensava nas teorias ensinadas na faculdade e de que para nada as usei. Ao caminhar via o nascer do sol, naquela manhã, o céu estava parecido com o inferno (se é que ele existe, mas se existisse seria como tal). Inteiro vermelho, com horizontes roxos e laranja pelo seu meio, ainda com as luzes dos postes dava um ar magnífico! Sentia-me o dono da rua, a essas horas é difícil encontrar se quer um vulto, mas prefiro assim, prefiro andar calmamente longe dos olhares curiosos. Não passou se quer meia hora, e aquele azul anil tinha tomado todo o céu, e os horizontes agora eram levemente lilás e branco, sem nuvens, nem estrelas, apenas a minha querida lua, e o fraco e distante sol, com uma trilha sonora de pássaros ao fundo. Meus frágeis olhos ardiam ao ver o esplendor da manhã, ainda gostaria de estar ao lado de minha amante, da noite. É mais intenso de como, na noite, os fatos e as palavras fluem involuntariamente, de como as mulheres se ajeitam e fazem uma doce expressão de bonecas inseguras, mas escondem-se perversas e maliciosas. De como os homens, se não saem para a caça, se não saem para contar piadas e histórias entre amigos, como se tornam desprezíveis ao lado de um solitário copo de vodka com tônica, principalmente quando chega ao desespero de escutar BB King e outro blues. Sim, isso parece totalmente normal até a parte em que começamos a contar nossas desgraças ao coitado do barman que nada tem a ver. Acho que ao fazer um curso de barman, eles devem estudar bastante sociologia e filosofia, pois se conselho algum dão, que facilidade ele tem de nos entender! Enfim, uma salva de palmas aos queridos barman`s do mundo inteiro!!!

(Nota: Apenas brincando caro leitor! Acordei ás 5horas, descrevi mesmo o que vi esta manhã, passou rápido já são 7hrs. Irei caminhar, Até!)

Wednesday, December 27, 2006

With Hollow Piteous Shriek



As largas e transparentes gotas de um elemento notório e particular, escoriam pela superfície áspera da face com dias não aparada, onde acabavam em um cachecol sujo que pousava levemente sobre um fino e delicado pescoço. Sentia-se humilhado pela vida, e sua aparência física não mentia o contrario, vivia com as cinzas de cigarro espalhadas por entre suas vestes que cheiravam sempre aquele leve odor boêmio de vinho. De fato, achava-se imprestável, sem feito algum, nada de boas ações, nenhuma intelectualidade, ou um rosto bonito.Não conhecia Sócrates, nem o realismo de Aristóteles muito menos o idealismo de Platão, quem diria Karl Marx ou Nietzsche. Não sabia desenhar como Da Vinci, não pintava como Michelangelo, mal conhecia os princípios básicos entre cor, luz e textura. Não herdou um sobrenome famoso. Não casou com uma rainha. Vivia atrás de uma máscara criada por si próprio, com seus diversos pseudônimos restava apenas o anonimato. Perdido o controle, sentindo-se agonizado com a decadente tentativa de ser melhor, se deixou a esperar, esperando, esperando apenas para que algum dia as coisas se ajeitassem, para que achasse sua vocação, para que usufruísse todo o bem que viria logo em seguida, como um presente divino de seu suposto deus. Pois afinal de contas, Edward vivia dentro da lei, mesmo não acreditando nela e achando um tanto quanto desnecessárias em certas estrofes. Mas certamente um bom samaritano!

Trabalhava como jornalista em um noticiário falido, era redator, repórter e Diretor-responsável dos anúncios fúnebres. Desempenhava bem seu papel, ou pelo menos nunca ninguém reclamou sobre... Além de escrever, foi atribuída a Edward a tarefa de executar ilustrações de tumbas e monumentos. Com o tempo, quem sabe por acomodação, gerou um fascínio pela arte gótica. Seus esboços o faziam relaxar, as tardes de folga ia sempre aos cemitérios em busca de inspiração e novos estilos. Não tinha muita sorte com as raparigas, seu perfil não estava entre os dez mais votados, mas tentava. Por causa do seu baixo padrão suas roupas eram simples, mas com uma bela combinação. Nos dias de festas passava sua extravagante colônia francesa conservada de anos, e voltava como um trapo sujo, pois se deixava lamentar ao lado de seu álcool querido e acabava sozinho sem conquista alguma.

Vendo a tristeza contagiante de Edward, Celina a querida redatora-chefe, o convidou amigavelmente para assistir uma famosa peça de teatro, “Sonho de uma noite de Verão” de William Shakespeare. Ele agradeceu e aceitou o convite da companheira de trabalho. Na noite marcada, se encontraram em frente ao imenso teatro, que parecia mais um palácio, cheio de cor, belas pessoas, e música clássica. A esperança de que aquele encontro viesse a ser romântico se esvaio assim que Edward pode ver a linda Celina sair do carro acompanhada com Rafael, o detestável escrivão do fórum que se encontrava a menos de uma quadra do jornal. A idéia de ter que enfrentar as longas horas servindo como incomodo para o casal foi repugnante para ele, mas mesmo assim, já que estava ali, ali permaneceria até o fim.

As cortinas se abriram, e o espetáculo começou. Quando os atores entraram em cena, Edward pode sentir suas mãos suarem e seu coração a bater mais forte em excitação. Logo no segundo Ato, quando Helena se declara por Demétrio que a tratava com indiferença, Edward desejou ser aquele rapaz de sorte, por quem a linda moça se referia com tanta paixão recitando:

“Vossa virtude é a minha segurança. Quando o rosto vos vê, deixa a noite de ser noite; por isso, não presumo que seja noite agora. Nem me faltam mundos de companhia nestes bosques, por serdes para mim o mundo todo. Como, pois, se dirá que eu estou sozinha, se o mundo todo agora me contempla? “
(Ato II, cena I )

Nunca até aquele momento ouviu uma confissão de amor, e pelo entusiasmo da atriz, sentiu como se fosse para ele aquelas palavras, roubando-as para si em um gesto melancólico. Havia então nesse momento se apaixonado! Começou a ir mais vezes ao teatro ver novamente e novamente a composição dramática. Quando a peça terminou, criou coragem e correu atrás da pequena “Helena”, em cólera atrás de sua musa a procurando por todos os camarins. Como uma criança mimada empurrando todos a sua frente, a achou. Confessando seus quiméricos sentimentos, apenas fez crescer uma decepção da jovem por Edward. Ele não teria entendido a diferença entre o real e teatral, a suposta Helena, era na verdade a delicada Jasmim de aparência não tão extravagante sem toda aquela roupa e maquiagem que podia se observar no palco. Era mais feliz que seu personagem, atualmente não sofria por homem algum, era forte! E disse com todas as letras, que não queria nunca mais tornar a ver Edward com toda aquela aparência suja e gestos repugnantes de um ignorante nato.

Passou então a ler as grandes obras dos escritores elisabetanos, e aprofundado em sua mágoa e solidão começou a descrever seus sentimentos. O que foi deveras útil em seu trabalho! Ao citar sobre a morte, seus textos eram longos e belos, retratando com muita devoção a tristeza sentida pelos parentes, comparada ao ermo e ao lamurio. Foi então contratado por outro jornal, mas agora apenas para escrever poemas, e foi muito requisitado pois seus leitores se sentiam de certa forma com suas histórias roubadas. Edward detalhava com perfeição, como se expressasse o que todos sentiam e não conseguissem transmitir. E quem diria, nosso pobre Edward teve um final feliz!



Dedicado a minha querida amiga Michelle.

Saturday, December 23, 2006

We Chased Our Pleasures Here.


E foi assim que em um dia qualquer, a pura jovem se entrega a vida noturna deixando aberta às portas para a percepção, deixando aberta às portas para o mal, mas desfrutando desse mal, possuindo esse mal, agonizando e extraindo todo esse mal para um bem próprio, para a auto-satisfação. Não seria puro egoísmo, apenas o cansaço! Estava cansada dos freqüentes cochilos à tarde, das poesias repetitivas à noite, da face inchada que acostumara a se deparar pelas manhãs, daquela maldita cidade fantasma! Ela buscava algo novo, algo que nem sabia o que era realmente. Quem sabe a utópica sensação de estar livre das regras impostas, da alienação, da ignorância, de subalternos, uma pequena volta aos tempos de celibato, da promiscuidade, com uma pitada de álcool correndo pelo corpo, nos deixando flutuar pela beleza da nova realidade psíquica. Estava atrás de algo, talvez alguém, um notório boêmio e poeta libertino, um amante aventureiro, queria uma vida recheada de poesia satírica, creio.

Largando tudo para trás, ajustou seu espartilho deixando que sua cintura ficasse fina e seus peitos salientassem, pegou seu melhor vestido, e ao deslizar aquela seda por seu corpo se sentiu tão bela com aquele bordo intenso de detalhes pretos, dando vida a sua pele branca o que passava a sensação de invencibilidade (uma verdadeira particularidade em ênfase misturada com seu singelo egocentrismo)! Com cuidado modelou seus cachos negros para que caíssem perfeitamente pelo seu pescoço, e como uma famosa atriz passou delicadamente sua maquiagem habitual para festas. Estava pronta, linda como nunca! Para tentar acalmar os nervos antes de sair de sua confortável residência, a jovem decide ler um trecho de seu livro Thaïs (de Anatole France), mas toda aquela tensão emocional e pulsões várias que registra no seio de uma sociedade decadente demonstrada pelo autor, o período do fim da perseguição ao cristianismo em que se narra a história fez crescer um repúdio instantâneo para a leitora, tendo ela seus motivos pausou a leitura, e chamou um táxi dirigindo-se ao cabaré pelas escuras ruas da perigosa Whitechapel.(ver From Hell)

Chegando lá as primeiras palavras da donzela foram: “Mr James, I want a cigarette and absinthe, please!“. Começou bem eu diria, uma bela combinação, mas, no entanto, quando a noite vai desenrolando, os velhos burgueses estupefatos com seus charutos começam a ficar benevolentes ao extremo, apreciavam em demasia raparigas submissas. Ao caminhar pelo local, por onde olhava se deparava com poses obscenas, e conversas não tão agradáveis para pessoas que não eram acostumadas. Com a bebida os pensamentos fluem com facilidade, emoções ocultas sob o manto de preocupações diárias vêm à tona. Pensou coisas e quase se arrependeu da tentativa atrás do novo,estava quase indo embora, quando um elegante rapaz esbarrou-se nela deixando cair entre os seios da jovem todo o copo de absinto. Ela não deu muita importância ao ocorrido pois já estava meio bêbada, achou realmente muito refrescante o banho, o lugar estava quente, cheirava a sexo, e tudo aquilo lhe dava ansiã. O rapaz a convidou para se dirigir a uma sala reservada que pudesse se secar e ficar mais a vontade longe daquelas pessoas infames.

Ao entrar sentiu o cheiro de incenso, e percebeu que em uma pequena vitrola Vivaldi seu violinista virtuoso, seu preferido, tocava. Que grande diferença! Pensou. Deitou-se sozinha em um recamier de couro, deixando o anfitrião com um ar sarcástico e ao mesmo tempo desinibido. A expressão da rapariga era um tanto quando atenuante, mas algo nela o interessava e com a troca de olhares a mensagem era entendida como recíproca. Começaram em uma tímida conversa sobre música, de Mozart e Beethoven á Chopin e Ravel, logo após literatura de Willian Blake, Edgar Allan Poe e do recente Franz Kafka entre outros. Após doses de ópio no perfeito cachimbo, minutos se passaram e quando notaram, um já estava entre os braços do outro, cegos como um beijo, naquele doce incontrolável anseio pelo prazer em que a droga e a bebida só faziam aumentar. O rapaz se sentiu a vitima daquela bela donzela que o atraia com tanta exatidão de uma forma tão inexplicável que mal pensava em outra coisa, apenas em ter ela para sempre, parar o tempo. Em uma coreografia perfeita, fizeram amor à madrugada inteira, os orgasmos múltiplos tomaram conta do quarto, a rapariga o olhou com uma expressão de enlevo, mas de enlevo no qual não havia um único traço de agitação ou excitação, pois estar excitado é estar insatisfeito. O seu extase era aquele calmo extase da perfeição atingida, a paz, não da simples saciedade do nada, mas da vida equilibrada, ds energias em repouso e bem contrabalançadsa. E estagnados decidiram sair do cabaré pois já era muito tarde.

O rapaz apaixonado a convidou para dormir em sua casa, mas a pura jovem recusou. Na manhã seguinte, a jovem se deparou com sua face inchada, tirou seu diário cochilo à tarde, leu as repetitivas poesias à noite e dormiu.
Aconteceu o mesmo nos dias seguintes, faltou coragem, é, faltou coragem de viver.