Saturday, December 23, 2006

We Chased Our Pleasures Here.


E foi assim que em um dia qualquer, a pura jovem se entrega a vida noturna deixando aberta às portas para a percepção, deixando aberta às portas para o mal, mas desfrutando desse mal, possuindo esse mal, agonizando e extraindo todo esse mal para um bem próprio, para a auto-satisfação. Não seria puro egoísmo, apenas o cansaço! Estava cansada dos freqüentes cochilos à tarde, das poesias repetitivas à noite, da face inchada que acostumara a se deparar pelas manhãs, daquela maldita cidade fantasma! Ela buscava algo novo, algo que nem sabia o que era realmente. Quem sabe a utópica sensação de estar livre das regras impostas, da alienação, da ignorância, de subalternos, uma pequena volta aos tempos de celibato, da promiscuidade, com uma pitada de álcool correndo pelo corpo, nos deixando flutuar pela beleza da nova realidade psíquica. Estava atrás de algo, talvez alguém, um notório boêmio e poeta libertino, um amante aventureiro, queria uma vida recheada de poesia satírica, creio.

Largando tudo para trás, ajustou seu espartilho deixando que sua cintura ficasse fina e seus peitos salientassem, pegou seu melhor vestido, e ao deslizar aquela seda por seu corpo se sentiu tão bela com aquele bordo intenso de detalhes pretos, dando vida a sua pele branca o que passava a sensação de invencibilidade (uma verdadeira particularidade em ênfase misturada com seu singelo egocentrismo)! Com cuidado modelou seus cachos negros para que caíssem perfeitamente pelo seu pescoço, e como uma famosa atriz passou delicadamente sua maquiagem habitual para festas. Estava pronta, linda como nunca! Para tentar acalmar os nervos antes de sair de sua confortável residência, a jovem decide ler um trecho de seu livro Thaïs (de Anatole France), mas toda aquela tensão emocional e pulsões várias que registra no seio de uma sociedade decadente demonstrada pelo autor, o período do fim da perseguição ao cristianismo em que se narra a história fez crescer um repúdio instantâneo para a leitora, tendo ela seus motivos pausou a leitura, e chamou um táxi dirigindo-se ao cabaré pelas escuras ruas da perigosa Whitechapel.(ver From Hell)

Chegando lá as primeiras palavras da donzela foram: “Mr James, I want a cigarette and absinthe, please!“. Começou bem eu diria, uma bela combinação, mas, no entanto, quando a noite vai desenrolando, os velhos burgueses estupefatos com seus charutos começam a ficar benevolentes ao extremo, apreciavam em demasia raparigas submissas. Ao caminhar pelo local, por onde olhava se deparava com poses obscenas, e conversas não tão agradáveis para pessoas que não eram acostumadas. Com a bebida os pensamentos fluem com facilidade, emoções ocultas sob o manto de preocupações diárias vêm à tona. Pensou coisas e quase se arrependeu da tentativa atrás do novo,estava quase indo embora, quando um elegante rapaz esbarrou-se nela deixando cair entre os seios da jovem todo o copo de absinto. Ela não deu muita importância ao ocorrido pois já estava meio bêbada, achou realmente muito refrescante o banho, o lugar estava quente, cheirava a sexo, e tudo aquilo lhe dava ansiã. O rapaz a convidou para se dirigir a uma sala reservada que pudesse se secar e ficar mais a vontade longe daquelas pessoas infames.

Ao entrar sentiu o cheiro de incenso, e percebeu que em uma pequena vitrola Vivaldi seu violinista virtuoso, seu preferido, tocava. Que grande diferença! Pensou. Deitou-se sozinha em um recamier de couro, deixando o anfitrião com um ar sarcástico e ao mesmo tempo desinibido. A expressão da rapariga era um tanto quando atenuante, mas algo nela o interessava e com a troca de olhares a mensagem era entendida como recíproca. Começaram em uma tímida conversa sobre música, de Mozart e Beethoven á Chopin e Ravel, logo após literatura de Willian Blake, Edgar Allan Poe e do recente Franz Kafka entre outros. Após doses de ópio no perfeito cachimbo, minutos se passaram e quando notaram, um já estava entre os braços do outro, cegos como um beijo, naquele doce incontrolável anseio pelo prazer em que a droga e a bebida só faziam aumentar. O rapaz se sentiu a vitima daquela bela donzela que o atraia com tanta exatidão de uma forma tão inexplicável que mal pensava em outra coisa, apenas em ter ela para sempre, parar o tempo. Em uma coreografia perfeita, fizeram amor à madrugada inteira, os orgasmos múltiplos tomaram conta do quarto, a rapariga o olhou com uma expressão de enlevo, mas de enlevo no qual não havia um único traço de agitação ou excitação, pois estar excitado é estar insatisfeito. O seu extase era aquele calmo extase da perfeição atingida, a paz, não da simples saciedade do nada, mas da vida equilibrada, ds energias em repouso e bem contrabalançadsa. E estagnados decidiram sair do cabaré pois já era muito tarde.

O rapaz apaixonado a convidou para dormir em sua casa, mas a pura jovem recusou. Na manhã seguinte, a jovem se deparou com sua face inchada, tirou seu diário cochilo à tarde, leu as repetitivas poesias à noite e dormiu.
Aconteceu o mesmo nos dias seguintes, faltou coragem, é, faltou coragem de viver.

14 comments:

Anonymous said...

Havia acabado de chegar em casa. 7 horas da manhã. Sob a porta, uma pequena e delicada carta. Sequer cheguei a me questionar sobre o remetente, "Ela escreveu algo pra mim"_ pensei. Passei alguns segundos lembrando dela, com um sorriso safeiro e só então iniciei a leitura. Aos poucos o conteúdo da carta foi me deixando cada vez mais compenetrado. Quanta poesia, quanta delicadeza. Eu podia vê-la fazendo em detalhes aquilo que havia escrito. Senti prazer. Calor confuso, fulgor, volúpia. E com meu rosto transformado pelo cansaço e pelo sono resolvi aproveitar a chuva que começava. Fui me deitar e acordarei somente à tarde. Agora em meus sonhos posso tocá-la...

Marco Aurélio said...

hummm Joãozinhoo aiuheiuaheiahei
brincadeira, belo texto ;)
bjo

Alexandre Hlenka said...

isso é tudo: O medo de viver!
texto muito legal que trata de um ponto de vista maravilhoso sobre isso!

Anonymous said...

Xuxu!

Incrivelmente fantástico!
Poucas coisas conseguem me tirar completamente da realidade e me mandar para algum mundo (?) que me faça sonhar... Juntamente disso, a vontade que sinto de escrever aumenta!

Devia escrever mais. Escreva mais contos... E se precisar de ajuda (; tô aqui ^^.
Me insipirou! Hahaha!

Beijos, te adoro muito!

Anonymous said...

inspirou*

Anonymous said...

Repito que eu não imaginava que você fosse tão articulada. Sabia sim, que você era uma pessoa inteligente e interessante, não me apaixonaria por você e todas suas particularidades, se não percebesse isso como fato. Gostei do texto, sim, mas posso perceber nele uma forte influência de outros autores e seus estilos de histórias. Uma jovem dama experienciando a vida boêmia não é nada muito inovador. Mas, creio que é assim mesmo que todos começam. Escrevendo do seu jeito o que assimilaram dos autores aos quais foram expostos e com os quais se identificam. E, aos poucos, você achará seu estilo, seus temas, seu eu. Então, é isso mesmo, esses textos são um ótimo começo de um futuro que aparenta ser promissor como escritora. É bom ver a juventude se expressando criativamente...(falou a idosa, não é mesmo?)

Anonymous said...

A garota boemia escreve bem, nao deixe de escrever ;***

Anonymous said...

você já pensou em escrever um livro com vários contos?? fico muito bom

gostei mesmo


beijos

Anonymous said...

aí ela passa dias e mais dias trancada dentro de casa, sem fazer absolutamente nada, simplesmente desolada e voluntariamente solitária. e depois de meses, ela repete o ritual, e volta pra casa, e o ciclo se repete.
adoro quando as pessoas colocam minha vida em palavras por mim.
<3

Anonymous said...

e van, nao posso deixar de comentar: tu escreve MUITO BEM. excepcionalmente bem. tirando uns errinhos gramaticais, mas isso é coisa secundária demais com a qualidade literária do teu texto.

Anonymous said...

olha, Machada de Assis lkjdsfhsdafksjffds. ficou muito bom memo vano parabens :D gostei mesmo!

Anonymous said...

Claus Closing!!!!

Tem certas coisas que somente si mesmo pode saber... todas as coisas podem acontecer principalmente quando se está propício para a vontade de se sentir. Tudo aquilo que o prazer proporciona é um gozo da vida, aproveitá-la é a melhor coisa que existe, não importa o que pode acontecer, sempre esteja pronto para as coisas da vida.
Mê!!! que doidera às essas horas.. hehehe
(estou com outro usuário)

Anonymous said...

Claus Closing!!!!

Tem certas coisas que somente si mesmo pode saber... todas as coisas podem acontecer principalmente quando se está propício para a vontade de se sentir. Tudo aquilo que o prazer proporciona é um gozo da vida, aproveitá-la é a melhor coisa que existe, não importa o que pode acontecer, sempre esteja pronto para as coisas da vida.
Mê!!! que doidera às essas horas.. hehehe

Anonymous said...

do jeito que eu gosto, sem meias palavras =D ... Gostei muito querida! está escrevendo cada vez melhor ;)