Wednesday, April 18, 2007

as suas e as minhas realidades - primeira parte


John estava no patamar, tremulo sobre o mármore, contemplando de longe toda a beleza de uma tal rapariga, que ria como criança dos singelos encômios a ela dirigidos. Através de seus olhos podia notar toda melancolia, seus lábios até podiam mentir, mas seus olhos, esses não. Pamella aparentava 17 primaveras, como uma distinta burguesa, bela e graciosa. Nunca fora casada mas os pedidos para sua mão eram inúmeros, gostava de manter seus amantes, seus flertes e jamais pensara em ter seu coração invadido por alheios, pois tão pouco cômoda essa situação seria.

Era mais uma das famosas festas da família Dratonn, muitas bebidas, comentários sobre arte, escritores famosos e outros nem tanto, deputados, cientistas, ricos e aqueles bajuladores de sempre. A massa infectada pela epidemia contemporânea, onde a insatisfação é excelsa. Todo aquele desfrute sobre os subterfúgios intelectuais, estrofes ensaiadas, faziam no estomago de John, voltas e reviravoltas. Não que ele se achasse um desconhecedor ao lado desses, mas apenas não era um falso e não via necessidade em demonstrar suas faculdades em ocasiões de festa. Pois em dias de romararia, pensava ele, o fútil do inútil preponderava, o riso era mais importante que pseudo-discussões.

A única saída era se entregar aos vícios, degustar cada baforada, e absorver cada ml do elixir. Encontrava-se cansado daquela leviana contaminação, queria explorar o belo não precisando se incumbir em mostrá-lo, mas ao mesmo tempo percebia a necessidade de uma companhia, e de preferência feminina. O velho relógio de corda alertava as horas, eram 02:00 quando a fria madrugada começava a se exaltar. De súbito, enquanto John lia uma obra anônima, a biblioteca do anfitrião T Dratonn se enchia de vida e perfume. Quem acabara de entrar era Pamella, que a essas horas se descobria em completa obediência.

-O que estais a ler meu querido?

-Uns rascunhos, mas desconheço sua origem, deixe-me recitar:

“De belas palavras se fez a poesia

De ritmados acordes inaugurou-se a música

De todo sentimento nasceu a arte

e de todo carinho cresce o amor..”

-Oras, o amor... és apenas uma utopia criada por pessoas como vós.

-Minha donzela, creio que julgas mal á reputação dos escritores, se os legados na historia de “nossa criação” não fossem tão exorbitantes, até supostamente acreditaria em vossas palavras.

-O certo é não se deixar depender, como faço! Como Casanova tanto adorava. Ter vários amores...

-Nem sempre é assim!

-John, nossas noites foram ótimas não foram? Nos divertimos tanto, se existisse o amor no meio, teria estragado tudo.

-Não vejo o porque. Tu foste minha linda Babilônia, onde mal pude me aventurar, eu como estrangeiro nato, só fiquei com cinzas da cidade fantasma.

-Não me faças rir John – ria abanando o leque sucessivamente – Sabes que minha afeição por ti é imensa!

-Então, me digas a razão com que paraste de me procurar? – juntando assim o corpo da pequena ao seu – Me dói tanto te ver sorrir a meio outros braços.

-Oras, pensava que gostava de voyeurismo! – e sua expressão não mentia toda malicia e satisfação que o momento de sarcasmo a proporcionara.

-Não sei o motivo pelo qual continuo perdendo o meu tempo! – largando-a e se direcionando à porta – Tu nunca mudas!

-A depressão bipolar não me atrai, e confesso viver muito bem assim!

Os efeitos de tais palavras se fizeram como feridas. John saiu da biblioteca sem despedidas, passou pela cozinha, surrupiou um vinho e fez da escura rua, sua meta. Andando ouviu a sinfonia de Bach, típico violão clássico. Seguiu correndo, saciado pela fome de acordes, até que parou... quem tocava Bourre, era um grupo de ciganos. O medo naquele momento não era plausível, então não se conteve ao ficar sentado admirando toda a técnica, mas algo o impressionou ainda mais. Uma bela mestiça que rodopiava junto aos seus lenços e miçangas, deixando seu longo e cacheado cabelo vermelho acompanhar o ritmo.

Quando a música parou, John nota a aproximação de três nômades:

-O que faz aqui? –pergunta um deles, de porte físico musculoso e rígido.

-Apenas estava passando pelos arredores e me encantei pela música, poderia ficar aqui de longe, ouvindo? –responde o flagelado John, magro e alto como tal.

-Diz aí Mileto, hoje é dia de festa, não queremos encrenca, aquela briga anterior já foste cansativa. –diz o segundo de expressões submissas.

-Tudo bem Alexandre, deixamos o rapaz ficar! E Julian, pegue esse vinho para festejarmos - E assim o terceiro, rouba pela segunda vez a garrafa, e junta-se aos outros em volta da fogueira.

Aos poucos John vai se aproximando, perplexo com a nova realidade! Cabanas, carnes ao fogo, pés descalços sobre o barro, algo fora de todos os padrões que havia presenciado até então.

-O que tu vês de tão magnífico senhor? –interrompe-o a mulher dos lenços.

-Pude notar que o mundo da segurança anda num paralelo bem distante do mundo da inteligência.

-Esses mundos, seus e de Platão, não vês? Não percebes que é único? Varia com o jeito de como tu observas e desejas que seja.

-Qual seria o seu pequena?

-No caso, apenas o mundo das sensações.

-Confesso que ando meio descrente sobre esse “sentir”.

-Dê-me sua mão, veremos o que a quiromancia pode nos dizer!

-Creio que veras nuvens de incertezas.

-Tu não és nem um pouco quixotesco! – ri num silencio abafado – Sua linha da vida é reta, demonstra rigidez no modo de viver. Ela nasce cortando o monte de Marte inferior, o que explica sua baixa auto-estima, mas um traço a corta, parece que viverás mudanças!

-Como podes saber tanto de minha vida, e ainda não sei nem vosso nome?

-Me chame de Anna.

-E tu de John.

-Diga-me John, tu danças?!

3 comments:

Anonymous said...

Um texto bem intrigante eu diria. Mas reflexivo e belo, como é de se esperar os seus textos. Há algo que eu não pude entender, mas não vou me delongar para não acabar saindo do contexto.
Está escrevendo muito bem e é certo que isso lhe renderá algum fruto. A arte te escolheu Vanessa!
Beijos meu doce.

Marco Aurélio said...

Concordo com o anônimo... já que ele não pôs nome vou me apoderar do comentário dele ahuiehaeaui muito bom mesmo!

Anonymous said...

hmm. tudo de bom.
parabens, vc escreve realmente muito bem!
bejoos


(aguardo)