Friday, June 22, 2007

® Gira-Sol Dos Oceanos II

CAPITULO II

Perdi-me em meio às divagações mentais, e sem perceber, logo entre devaneios eu já estava em outra realidade psíquica, ou não tão psíquica, sendo que para mim todas as realidades o são. Essa menos utópica sem anjos e sem espadas, apenas, homens e armas. Encontrava-me numa praia a qual nunca visitara antes, era limpa, tinha suas águas cristalinas e não havia muito contato com a civilização pelo jeito, acho que algum ministério tomou providencias sobre a preservação do local. Saí atrás de algum barco, de alguém para me orientar sobre aquela localização. Com minhas pernas bambas, em movimentos involuntários elas me guiavam, rápidas e ágeis como os golpes de antigos samurais. Vi-me com medo, como uma criança ao dar os primeiros passos. Decepcionado em mente, meio inconsciente, meio descrente subestimei minhas pernas e elas triunfaram, funcionaram magnificamente; mal pude notar que já me encontrava a 5 pés do porto, onde um grupo de pescadores se encontrava.

-Desculpe-me incomodar, mas você poderia me informar onde exatamente eu estou? Estava de passagem por essas estradas e acabei por me perder aqui. (a desculpa sobre uma tal viajem veio em boa hora, só que a duvida se realmente haveria alguma estrada perto daquela beira-mar era perturbadora).

-O moço, ocê me descurpa má é que moro noutro lado do mar, vim apenas pescar uns peixes e logo me vou embora.

(O homem tinha a aparência de uns quarenta anos, mas seus olhos e seu sorriso desmentiam, aquele velho corpo, era o que o sol tinha lhe proporcionado).

-Então, poderia me levar contigo para o outro lado do rio? Se não for pedir de mais?

-Mas claro uai.

Sobre o crepúsculo, o abandonar do sol, a noite me pareceu a mais escuras de todas as outras. A fonte de energia daquela pequena cidade a qual o simples pescador havia me levado pifou, não sabia exatamente o motivo, mas vi de longe toda escuridão e paz no vilarejo. Sozinho, caminhei atrás de um lugar para dormir, perdido naquelas estranhas ruas, sem saber que destino tomar. Deparei-me com um grupo de homens, todos uniformizados em ternos negros, correndo pelas esquinas, marchando em ritmos acelerados tão quanto meu coração se encontrava.

As janelas das casas pelas quais passei, permaneciam fechadas, num ritual homogêneo e predominante, deixando escapar pelas frestas, das carentes portas, apenas, fachos de luz proporcionados por velas. Além dos cães e gatos que passeavam e rosnavam nas calçadas, não se podia ouvir som algum, nenhuma música, nem sequer uma conversa abafada ou jovem enamorados. Senti calafrios, me igualava a um estrangeiro, um forasteiro não de outro país, de outra cultura, mas sim de outro mundo. Apalpei meus bolsos na interrupta esperança atrás de meus cigarros, mas retardando meu câncer, não os achei, eles já não estavam mais lá. Vi certa dificuldade em caminhar, sem saber para aonde iria. É realmente incrível o poder de nossos olhos, após minutos de mais caminhada senti minha pupila triplicar, me acostumei com a falta de iluminação. Deixando em ênfase o contraste do antes e depois, do inédito, do nevoeiro, da cerração, me veio a clareza.

Brr, Brr. A barriga, alertava á fome, o cansaço e a friagem. Contemplei de longe um estábulo, diferente do livro de São Mateus, dormi lá entre os animais, como único esconderijo, sem pensar duas vezes, vendo a primordial difusa tarefa de deitar. Esses últimos passos foram os mais difíceis e mais pesados, como se pesos de 20kilos a mais se concentrassem em cada uma de minhas fracas pernas, enfim cheguei. Ajeitei a palha, fiz com parte dela um travesseiro, um cobertor e uma cama, um ninho, meu conforto. Que grande maravilha foi! Que grande maravilha é repousar, não sentir peso algum, a inércia da física passando das variáveis para a nula. Dormindo eu esquecia minha fome e meu medo.

Passei do não tão real, para o surreal inevitável, o tão maior paradoxo obsoleto que reinava dentro de minhas sinapses quando me via inconsciente. Na liderança do meu eu desconhecido, (daquele que raramente pronunciamos e vivemos desencontrando) me restava somente algumas pequenas lembranças, tão rápidas e sórdidas que ao acordar, logo me esquecia.

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