Friday, June 22, 2007

® Gira-Sol Dos Oceanos I

CAPITULO I


Vi meu fim, inconsciente eu lutava contra os anjos. Morri dormindo, desconhecendo os porquês das coisas, e sem saber as respostas para as três perguntas sobre a existência do homem. O salão de batalha era pálido e sem adereço algum, a única lâmpada velha e cansada piscava em meio a minha exausta tentativa de vitória. Combatia pela vida mesmo sem compreender o sentido dessa necessidade que tanto me torturava, que me sugava sem motivos. Gabriel tinha a agilidade dos competidores de esgrima, quanto a mim? Não havia nem terminado as aulas de capoeira que me era oferecida pela mocidade de minha terra. Meu mórbido e dopado corpo mal desviava os golpes, me entregando as inchações e a cólera como quem nunca viveu em Esparta.

Não pedi clemência e vieram consecutivos ataques. As lembranças da falsa memória vieram à tona, igualando-me a um pequeno tradutor de romances internacionais, distorcendo a real verdade, dir-se-ia que sou um leigo para lhes informar com exatidão as maravilhas e tristezas que passaram pela minha mente, relembrando de toda minha gente e das prosas que ainda não terminei. Fadigados, os anjos em plena divindade se colocaram a postos para me ouvir. Supliquei, lhes contei minha história e meus anseios, mas não como um poeta bem o deveria fazer, contei como um desesperado, um nato pobre coitado que de pouco estudo já esqueceu de todas as formosuras da língua culta, agonizando por dias a mais, pela vida que havia desperdiçado e que haveria por direito de recomeçar.

Tão poderosa era aquela força, clara e equilibrada, tinham o dom da reencarnação, da vicissitude. Gananciosos brincavam com meu medo e minha pusilanimidade. Amarraram cordas em meus pulsos e pés. Estava armado o grande espetáculo de fantoches! Eu rezava para Deus, mas das prezes não vieram respostas. Talvez pelo fato de que nunca tive muita fé, não ter o habito de ir à igreja, e em contra-partida destes, era a vingança sagrada. Estava correto que não devemos rezar só na hora de sofrimento, mas se é só nessas horas que vejo razão e indigência, o que fazer? A fé é de tão grandiosa magnitude, tentarei não colocar toda ela num único ser que desconheço, colocarei em mim! Subir-se-ia ás alturas em saber que o pensamento positivo pode nos ajudar tanto, principalmente se ti mesmo o experimentas.

Como dentro dum filme de Domingos de Oliveira, os anjos (que ao meu ver pareciam grandes crianças em máxima malicia e perversidade) pegaram uma moeda, e na desesperada brincadeira de cara ou coroa, eles tinham meu destino em suas mãos, donos do mundo, donos da vida, subordinados de Deus.

Dentro do salão, pela falta de janelas, pela falta do ar (grande falta essa última, que tanto me sufocava nas horas de luta) a moeda girava em sincronia perfeita, eficiente e ligeira. Meu medo agora era de que os anjos se inspirassem no poderoso santo hindu Satya Sai Baba que enganava o pobre Krishna ao perguntar as cores e quando ouvia a resposta correta, logo fazia a cor do objeto mudar censurando seu aprendiz pelo erro. E se caísse o lado da vida, mas a transformassem no lado da morte? Não, eu deveria ter fé de que eles não fariam isso nem comigo, nem agora!

Sem mais anedotas, tinha chegado a hora, faltavam quatro voltas para a moeda cair nas mãos de Gabriel. O nervosismo fazia com que em meu rosto, gotas de suor deslizassem vagarosamente me trazendo arrepios. Nas mãos, a imprevisível oscilação, nos neurônios os repetitivos vilipêndios.

Ela caiu, corri em direção a ela, para ver o resultado. Com os olhos cheios de lágrimas, com a boca fogosa para gritar pela vida, a moeda caiu, caiu e foi com o lado da minha salvação! Não contive o sorriso irônico, transparecendo nele uma pequena frase apenas; “ganhei seus otários!”. Havia ganhado uma nova chance, dessa a qual eu zelaria muito mais. Mas eu zelaria no que? Qual o motivo de que raios eu tanto quis a vida? De que mudaria minha morte? De que mudaria minha morte, se na vida eu era um aprisionado do tempo, tempo esse que é a vertente de todo o mal. Em tudo no mundo, (graças ao tempo) surgem oportunidades para nos guiarem através do mal. Vejo que o bem ainda não foi banalizado, que vem sendo coisa tão rara quanto o celibato e a humildade. Não quero viver como um sarcástico, um glutão, que para conseguir se dar bem precisa passar por cima de outros transeuntes. Preferia agora nem viver!

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