Tuesday, June 26, 2007

Gira-Sol Dos Oceanos

–Maria!! –acordei com meu próprio grito recrudescido, acalentado por ter fugido de meu sonho. Em minha frente estava uma linda e assustada jovem, de longos cabelos dourados e cacheados, usava um óculos tão grande que cobria quase toda sua face, o escondendo de mim .


–Calma, moço! –disse a menina, me fitando e dando pequenos passos para trás, receando qualquer movimento – Tu és da onde?

–Bem antes de tudo vem as apresentações, não é mesmo? Me chamo Felipe e você? –minhas palavras saiam animadamente (mesmo cansado e com remelas nos olhos), teria achado uma criaturinha tão doce para me orientar nessas ruas, eu que ansiava pela volta ao lar, a mulher e ao emprego no laboratório mais do que tudo.

–Me chamo Marina. –na candura de sua meninice, em suas bochechas estouravam purpurina vermelha, de vergonha, as quais faziam a pequena olhar para o sujo chão do estábulo se distraindo– O que fazes aqui?

–Estou perdido de mim e do mundo. Com fome, e nessa cidade que desconheço. -mal reparava eu, que a menina estava na flor da idade, deveria estar na faixa de seus 16 17 anos, quando o corpo começa a evoluir, criar formas. Marina vestia uma curta camisola verde, em sua frente tinha a estampa de um anjo, num dizer: "Florzinha de Jesus". Que doce! Eu pensei.

-Sabe moço, não sei se papai se importa que fique aqui, mas Gertrudes, a nossa empregada, comentou horrorizada! "Onde já se viu um andarilho dormir em nossas instalações", pensou que roubaria nosso leite, mas logo vi, que o senhor não teve tempo para nada. -em suas pequenas mãos estava um balde de alumínio, deduzi ser o recipiente do leite, do leite ainda quente, aquele amargo e viscoso recém tirado da vaca, eu que tanto morei na cidade, não aparentava para mim tentação alguma, essas coisas de interior, de simplicidade.

-Cheguei a noite, nem vi o que tinha aqui, puxei um palha e me deitei. Qual o nome de sua cidade?

-Ah moço, estamos no interior de São Pedro do Oeste, mas desculpa a falta de gentileza, tenho de correr que hoje a cidade está em festa! Batuques e... bem, instrumentos de tudo quanto é tipo! Tenho de correr!

E lá se foi a menina, em plena meninice correndo com suas sandálias, deixando a porta do estábulo bater forte com o vento que sua velocidade jazia, com o vento que estava escasso naquela manhã. Queria eu várias meninas em plenas meninices correndo a minha volta para abanar, para mandar fora todo o maldito calor que fazia naquela cidade. A menina se foi, e me deixou como dono dos animais, acho que até esqueceu de ordenhar a vaca, deixou-se por jogar o balde de lado. Resolvi então ajudar, se eu dormi lá, algo em troca eu haveria de dar, peguei o balde, puxei um banco e...

-EU SABIA!! Antônio corre aqui, Antônio corre aqui que esse hippie, esse mendigo, esse sem teto, quer roubar nosso leite!!! -ao gritos entrou essa louca dessa mulata, era gorda, gordinha, dessas que arrastam as chinelas ao andar, que gozam da culinária caseira, dos quitutes e dos temperos, essas que se não fossem mulatas, diríamos parente de algum italiano, aos berros, aos prantos! - EU SABIAAAAAA!!! ANTÔNIO!

-Minha senhora, não estou roubando nada, não veja por mal, estava apenas ajudando a pequena Marina, para a festa de hoje a noite! -sorte minha era a boa lábia, os cursos de oratória vieram em bons tempos, falei melhor que qualquer candidato a presidência, a ministro. No que eu falei "pequena Marina", já vinha entrando o velho Antônio, assim presumo eu; o pai.

-MARINA! Nossa princesa, tire os olhos grandes dela viu moço?! Antônio, peguei ele roubando o leite! Eu sabia! Eu falei! Eu sabia!

-Gertrudes, calma! Deixa o moço se explicar!

-Que intimidade é essa com Marina minha filha?! – eu sabia, pensamento de pai é assim mesmo, que vaca o que, que leite o que, vamos salvar a honra da filha! E está certo o homem!

-Ora, Antônio, não é mesmo?! Vim de longe, de outras águas, cheguei na cidade ontem a noite, sem ter aonde ir, entre a penumbra da noite não vi lugar mais confortante que esse! Deite-me aqui, e acordei com a menina perguntando minha origem, falou sobre uma festa, e saiu correndo, pensei em ajuda-la com o leite, mesmo não sabendo ordenhar, mas tentando ajudar...

-Ah tudo bem vai, estamos em clima de festa mesmo, mas te deixo dormir só mais essa noite, vem cá dentro que a Gertrudes irá fazer algo pro`cê comer!

E fomos para dentro da casa, de arquitetura tal que fiquei impressionado, tão 1500, tão rica no meio da rua de chão, da rua de poeira amarelada. Ela lá, simples e aconchegante, mobilia clássica e inteira, pães caseiros e clima familiar, gostoso como tal, como era!


1 comment:

Anonymous said...

O sono dos que acordam é mais forte do que o daqueles que se deitam.